Violência na política afasta as mulheres, diz especialista

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Em debate nesta sexta-feira (18) com as deputadas da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados sobre os problemas enfrentados pelas brasileiras nos espaços políticos, a representante da ONU Mulheres Brasil, Ana Carolina Querino, alertou que a violência na política afasta as mulheres — o que, por si só, já é uma violação de direitos.

“É uma violação básica de direitos humanos, mas também é uma questão de representatividade. Quando a gente olha para a sociedade de um modo geral, o fato de as mulheres não se enxergarem em quem as representa constitui, em si, uma violência simbólica. Essas mulheres não se enxergam fisicamente e nem nas pautas, e isso representa essa violência política.”

Segundo dados da ONU Mulheres, 82 % das mulheres em espaços políticos já sofreram violência psicológica; 45% já sofreram ameaças; 25 % sofreram violência física no espaço parlamentar; 20%, assédio sexual; e 40% das mulheres afirmaram que a violência atrapalhou sua agenda legislativa.

A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) conduziu o debate e destacou dados da UniRio que mostram que, entre 1998 e 2016, a cada pleito 16 candidatos foram assassinados, sendo que esses casos se concentraram em eleições em municípios com até 50 mil habitantes. Segundo ela, a violência se torna mais grave no caso de candidatas mulheres.

“Quando nós falamos sobre violência política não podemos não comentar a violência política de gênero, que se manifesta desde atitudes que podemos considerar pequenas, mesmo que não sejam, desde as interrupções, o que falam nas fake news, que chegam nas ameaças e que somadas, entre as atitudes e ações que nós vemos direcionadas a candidatas mulheres porque são mulheres, têm um papel muito grande de desestimular e desincentivar, assim silenciando a participação das mulheres na política.”

A secretária Nacional de Políticas para as Mulheres, Cristiane Britto, destacou que, para combater a violência política contra as mulheres, foi criado um canal especial no disque 180 já para as eleições deste ano.

Trabalho doméstico — A representante da Rede de Mulheres de Pernambuco Mônica Oliveira levantou outro ponto que justifica a pouca participação das mulheres na política: a divisão desigual das tarefas domésticas faz com que elas não tenham o tempo necessário para se dedicar a uma candidatura. E, no caso de mulheres negras, elas ainda precisam vencer o preconceito.

“O racismo provoca esse imaginário em que as pessoas não acreditam que as mulheres negras são competentes, são inteligentes, são honestas e, portanto, gestoras que vão operar com lisura. Não acreditam especialmente em nossa capacidade como ser político e isso é algo que precisa ser considerado, então o estímulo do impulsionamento é sempre negado”, salientou.

A representante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Júlia Barcelos também citou o trabalho doméstico. Ela  afirmou que é preciso mudar a mentalidade da sociedade para naturalizar a presença de mulheres os espaços políticos. Ela lembrou que a violência contra as mulheres na política vem da crença de que aquele espaço não deve ser ocupado por pessoas que deveriam estar no ambiente doméstico, cuidando da casa e dos filhos.

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