Desastre da política ambiental de Bolsonaro é denunciado ao Papa
A Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema) divulgou, recentemente, um documento de 35 páginas, com fatos que comprovariam a trajetória do desmonte na área ambiental promovida pelo governo Bolsonaro.
Agora, a Ascema Nacional resolveu dar um caráter internacional à publicação.
Nesta quarta-feira (9), foi encaminhado ao papa Francisco o dossiê “A cronologia de um desastre anunciado: as ações do governo Bolsonaro para desmontar as políticas de Meio Ambiente no Brasil”.
Além do dossiê, o Sumo Pontífice recebeu uma carta denunciando o ataque à Amazônia e aos seus povos originários.
“A intenção é informar ao Papa os ataques que o meio ambiente brasileiro vem sofrendo, os danos irreversíveis e os riscos do desmonte em curso para as populações indígenas, ribeirinhas e todas as formas de vida que povoam nossos biomas”, afirma o presidente da Ascema Nacional, Denis Rivas (foto).
O motivo para a escolha do destinatário internacional foi porque em outubro de 2019, o Vaticano realizou um Sínodo (assembleia de bispos do mundo inteiro) voltado especialmente para a Amazônia.
Povos tradicionais estão ameaçados
Na carta, a entidade que reúne os servidores especialistas na área ambiental brasileira afirma que ribeirinhos, extrativistas, povos tradicionais e a grande maioria dos povos indígenas se encontram ameaçados.
E essa ameaça é causada por uma política de incentivo ao desmatamento, ao garimpo e de uma suposta “integração” que não integra, que não acolhe, que desrespeita saberes e fazeres tradicionais; destrói crenças e valores ancestrais e também que mata por meio de doenças, como a covid-19.
Descidas e subidas nos índices de desmatamento
O documento informa ainda que, entre 2004 a 2012, o Brasil conseguiu expressivo índice de 83,5% na redução do desmatamento (de 27,8 mil para 4,6 mil km2 por ano).
Esses índices, apesar de apresentarem algum crescimento, mantiveram-se em níveis relativamente baixos até meados de 2018, mantendo-se abaixo dos 8 mil km2 anuais.
“No entanto, com a ascensão de Jair Bolsonaro e após a sua posse como presidente, o desmatamento cresceu de forma assustadora, atingindo cerca de 10,1 mil km2 por ano, ameaçando a vida e a própria existência dessas populações tão fragilizadas, com a perda de seus espaços de vida”, afirma Denis Rivas.
O presidente da Ascema Nacional diz ainda que Brasil está na contramão da prática de outros países que protegem suas florestas, águas, biodiversidade e seu povo.
De acordo com a entidade, vivem nas Terras Indígenas da Amazônia 170 povos que falam idiomas diferentes, totalizando 450 mil pessoas. Estima-se que 46 grupos indígenas vivem isolados.
As principais denúncias feitas ao papa Francisco foram:
● os ataques aos povos e comunidades tradicionais que temos testemunhado diuturnamente;
● o desmonte sistemático das instituições socioambientais visando seu
enfraquecimento e inoperância;
● o desincentivo e as tentativas de inviabilizar o trabalho dos servidores no combate aos crimes ambientais;
● a usurpação de competências da área ambiental por outros setores de
governo;
● a crescente militarização dos órgãos e entidades ambientais.
Queimada no Pantanal no mês de agosto de 2020
Apoio na luta em defesa da causa socioambiental
Ao final do documento e das exposições de motivos, a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente pede o apoio do Papa na luta para defender um mundo de justiça socioambiental.
À Ascema pertencem servidores públicos que atuam em todos os biomas brasileiros: Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica, bem como protegem nossas águas, zona costeira e mares.
Pertencem a diferentes instituições ligadas ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério da Agricultura (Mapa): Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
Leia a seguir, a íntegra da carta ao papa Francisco e o Dossiê Governo Bolsonaro.