Novo capítulo da crise política em SC reforça antagonismo entre Moisés e Daniela

Compartilhe

A ascensão de Daniela Reinehr ao governo de Santa Catarina, a partir desta semana, restringe a luta pelo poder no Estado à dupla escolhida pelo voto em 2018. Com a abertura do processo de impeachment apenas contra Carlos Moisés (PSL), ninguém mais nutre a expectativa de ocupar a cadeira de governador além dos dois.

Esse novo capítulo da crise política catarinense reforça o antagonismo entre titular e vice. Dissonâncias no poder já haviam separado os companheiros de chapa, que só se reaproximaram na tentativa de unir forças contra o impeachment.

Moisés é o mais óbvio derrotado da madrugada de sábado (24), mas não está sozinho. A maioria dos deputados estaduais desejava um governo interino sob a batuta do Parlamento, tendo Júlio Garcia (PSD) à frente, com potencial de tornar-se efetivo numa eleição indireta em 2021. Essa alternativa foi sepultada pelo Tribunal de Julgamento do Impeachment.

A votação por 6 a 4 também expôs uma limitação óbvia de poderes da Assembleia. Sem argumentos jurídicos consistentes para convencer ao menos dois desembargadores de que Moisés cometeu crime, a vontade do Parlamento, mesmo que quase unânime, é insuficiente para afastá-lo.

Grande vencedora da batalha, Daniela livra-se do cadafalso com a caneta na mão. Governará sob a expectativa renovada de um eleitorado que mirou na onda bolsonarista e acertou num moderado que não soube — ou não quis — compartilhar poder. No mercado futuro da política, Daniela promete relação amistosa com os demais poderes, coisa que o colega nunca construiu.

Porém, o cenário positivo pode tornar-se justamente o maior obstáculo da nova governadora. Alinhada a Jair Bolsonaro e com dois anos de administração pela frente, Daniela representaria maior ameaça aos adversários que desejam concorrer ao lugar dela em 2022. Nesse contexto, um governo Moisés cambaleante seria mais atraente à elite política com representação na Assembleia.

Os rumos dessa disputa devem ficar mais claros a partir da composição do segundo Tribunal de Julgamento, na segunda-feira (26), agora para avaliar o papel de Carlos Moisés no escândalo dos respiradores. Calejados (e desgastados) pela sessão da última semana, os deputados terão uma segunda oportunidade de inviabilizar o governador. A dúvida é se eles ainda têm interesse nisso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

www.clmbrasil.com.br