Falta de formação política interfere em problemas sociais, defende professor

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Muito se fala atualmente que os governos não governam, mas que são governados. Diante de um período ao qual se vive graves problemas sociais, a população continua a respirar política, enquanto na visão dos especialistas políticos, os governos se fecham cada vez mais em torno da micropolítica e burocracia. Em entrevista ao RDtv, o consultor internacional em Ciências e Técnicas de Governo, Aristogiton Moura, defende que a raiz da problemática que tanto se discute atualmente está na falta de formação política, que leva partidos e gestores a atuar com pouca efetividade e sem visão de futuro social.

Com estudo publicado no Observatório do Conjuscs, da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), o professor explica que a natureza do sistema democrático pressupõe os partidos políticos, as eleições e o ato de governar como o tripé da democracia. “Os partidos têm a responsabilidade de organizar a sociedade, mas para que isso aconteça, não basta só contar com uma estrutura robusta, é preciso muito mais que isso, pensar a visão dos partidos políticos para a sociedade”, diz.

No entanto, para que isso aconteça, é dever dos partidos deixar de ser meros clubes eleitorais e avançar nos interesses eleitorais para que não sejam abertas as portas para falta de ética e corrupção. “Quando se atende apenas aos interesses dos partidos e daqueles que o ajudaram a chegar ao poder, abrem-se as portas à falta de ética, como como um problema em si mesmo, mas como um subproduto da mediocridade, entre outros, como tem sido visto e demonstrado ao longo dessa jornada em busca de uma democracia de fato mais cidadã”, explica.

Para o professor, atualmente vive-se um processo de migração de um modelo de democracia representativa – em que as decisões são tomadas por representantes eleitos pelos membros da comunidade ou por grupos com direito a eleger ou votar – para o de democracia participativa – ao qual o poder é uma faculdade que se radica tanto nos representantes como nos representados. “Mas tal mudança requer um esforço adicional de formação da sociedade organizada para que haja mudanças consideráveis no governo brasileiro”, enfatiza.

O que impacta significativamente nas mudanças comportamentais nos modelos de representação, é a chegada da era digital para os eleitores, que segundo Moura, vem para acrescentar na vida da população. “A sociedade agora está mais conectada, ela tem o instrumento de decisão e de cobrança nas mãos, não é mais como antigamente ao qual se tinha apenas uma forma de discurso. Agora, se quer falar com um político, é possível, é se pode também cobra-lo por algo que não foi feito. Mas é preciso saber usar a ferramenta”, alerta.

A transição de modelos, no entanto, ainda caminha a passos de tartaruga na realidade política: os partidos continuam sendo meras organizações eleitorais, especializadas em ganhar eleições e preparar-se para as próximas. “Apesar de contar com estruturas burocráticas robustas, institutos de formação política e vultosos recursos públicos para seu financiamento, os partidos políticos não elaboram grande estratégia e consequentemente não apontam rumos e alternativas de enfrentamento aos grandes problemas de âmbito nacional, regional e municipal, aliás, em âmbito algum”, diz o professor ao alertar que falta muito o que evoluir.

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