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Deputados da Câmara preparam Projetos de Lei para bebês reborn após explosão de vídeos da boneca nas redes sociais

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A crescente popularidade dos bebês reborn nas redes sociais extrapolou o ambiente digital e desembarcou no Congresso Nacional, onde pelo menos três novos projetos de lei foram apresentados na última semana para regulamentar o uso dos bonecos hiper-realistas. As propostas, de autoria de parlamentares do União Brasil e do Partido Liberal, buscam tanto impor limites ao uso das bonecas em espaços públicos quanto oferecer suporte a quem desenvolve laços afetivos profundos com elas.

Uma das propostas mais notáveis é da deputada federal Rosangela Moro (União/SP). Seu projeto visa estabelecer diretrizes para o fornecimento de assistência psicológica via Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas que desenvolvem vínculos afetivos intensos com bebês reborn e outros bonecos. O atendimento incluiria acolhimento, orientação, tratamento e coleta de dados de indivíduos que se identificam como “pais” ou “mães” de reborns, além de aconselhamento familiar.

Na justificativa da medida, a deputada argumenta que, embora originalmente concebidas como peças artísticas, as bonecas reborn têm sido cada vez mais incorporadas a dinâmicas afetivas complexas, frequentemente ligadas a situações de luto, perdas relacionais, carências emocionais severas ou isolamento social.

Outras duas propostas se concentram em proibir o uso de bebês reborn em serviços públicos destinados a seres humanos. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) apresentou um projeto que proíbe o atendimento de bonecos hiper-realistas em unidades de saúde públicas ou privadas vinculadas ao SUS. Profissionais que descumprirem a norma podem enfrentar advertências, suspensão e até demissão, enquanto instituições privadas podem ser multadas em até R$ 50 mil e ter sua credencial suspensa ou descredenciada junto ao SUS.

Complementando essa linha, o deputado Zé Trovão (PL-SC) protocolou uma proposta que impede a utilização de serviços públicos por bebês reborn, vedando a ocupação de vagas em creches, hospitais, postos de saúde e quaisquer estabelecimentos de atendimento a crianças e gestantes. O descumprimento dessa medida pode acarretar advertência formal e multa de R$ 1 mil em caso de reincidência.

Febre nas redes socias

Nos últimos meses, uma tendência peculiar tem dominado as redes sociais e pautado discussões acaloradas: os bebês reborn. Essas bonecas hiper-realistas, que imitam com perfeição recém-nascidos, se tornaram um fenômeno, conquistando crianças, adultos e até celebridades, mas também levantando questões sobre saúde mental e os limites entre o lúdico e a realidade.

Criados com técnicas artesanais minuciosas, os bebês reborn são produzidos com materiais como vinil e silicone, recebendo camadas de pintura para simular a pele humana, implantação fio a fio de cabelos, e até mesmo peso e cheiro de um bebê de verdade. Essa impressionante semelhança é o principal atrativo, fazendo com que muitos “tutores” os tratem como se fossem filhos reais.

Fenômeno e Mercado em Ascensão

A “arte reborn”, originária dos EUA na década de 90, ganhou força no Brasil no início dos anos 2000 e, com a popularização das redes sociais, explodiu em visibilidade. Vídeos de “maternidades reborn”, “partos” simulados e rotinas de cuidado com as bonecas viralizam no TikTok, YouTube e Instagram, atraindo milhões de visualizações e alimentando um mercado em crescimento.

Os preços dos bebês reborn variam enormemente, de modelos mais simples a partir de R$ 100 a peças exclusivas de silicone sólido que podem ultrapassar os R$ 9.000, ou até US$ 10 mil no exterior. Artesãs dedicadas, as “cegonhas” desse universo, chegam a faturar alto com a produção sob encomenda, atendendo a uma demanda diversificada que inclui colecionadores, famílias e até profissionais de saúde que utilizam as bonecas para fins terapêuticos.

Mais do que um Brinquedo: Uso Terapêutico e Controvérsias

Além do aspecto lúdico, os bebês reborn têm sido empregados em terapias, especialmente para idosos com Alzheimer ou demência, auxiliando na redução da ansiedade e na promoção da sensação de cuidado e companhia. Para pessoas em processo de luto, a boneca pode ser um suporte emocional, ajudando a lidar com a perda, em especial a de filhos.

No entanto, a febre dos reborns também gerou um intenso debate. Psicólogos e psicanalistas alertam para os possíveis riscos à saúde mental quando a linha entre a fantasia e a realidade se torna tênue. O excesso de humanização e a projeção de afetos intensos em um objeto inanimado podem ser um sinal de carência emocional ou uma fuga da realidade, levando a comportamentos preocupantes. Alguns casos já chegaram à justiça, com brigas pela “guarda” das bonecas.

Opiniões Divergentes e o Futuro da Tendência

Enquanto muitos defendem o hobby como uma forma legítima de expressar afeto e criatividade, outros veem a prática com estranhamento e preocupação. Celebridades como Gracyanne Barbosa já aderiram à tendência, revelando o conforto que os reborns trouxeram para suas vidas, enquanto figuras públicas e religiosos expressam visões mais céticas, chegando a classificar o fenômeno como “o apocalipse” ou uma romantização da maternidade que pode descolar da realidade.

Apesar do “barulho” nas redes sociais, que sugere um frenesi coletivo, análises do mercado indicam que o número de vendas reais ainda representa um nicho mais modesto no Brasil. A maioria dos clientes parece ser composta por crianças, mas o debate continua, com a sociedade buscando compreender os impactos sociais e psicológicos dessa crescente paixão pelos bebês reborn.

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