Copa América, crise de interesses

Em meio ao cenário quase apocalíptico causado pelo surto do vírus Covid 19, parece contraditório que o Brasil seja a sede da Copa América. Principalmente porque quando pensamos em copa, pensamos em torcidas, comemorações, enfim, aglomeração. O que nos dá uma certa tranquilidade é saber que o Ministério da Saúde já se posicionou informando que irá elaborar um protocolo de segurança para a realização da Copa América no Brasil em parceria com as autoridades sanitárias dos estados onde ocorrerão os jogos. “Seguindo as recomendações de vossa excelência [presidente da República], o Ministério da Saúde elaborará, em parceria com as autoridades sanitárias dos estados onde acontecerão os jogos, um protocolo para promover a segurança dos atletas, comissão técnica e quem acompanha a nossa Copa América”, disse Marcelo Queiroga.

As sedes originais da Copa América seriam a Colômbia e Argentina, mas os colombianos desistiram devido à grave crise social que tomou conta do país. A Argentina também desistiu do evento por causa da piora da pandemia, já que registrou mais de 3,6 milhões de casos da doença e 76 mil mortes causadas pelo vírus. Com a saída desses países, o Brasil foi o próximo cotado.

Através de um anúncio, Luiz Eduardo Ramos (ministro-chefe da Casa Civil) confirmou o Brasil como sede hoje, dia 1º de junho. O país atendeu a um pedido da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) para receber o torneio, que terá início no dia 13 e vai até 10 de julho. O ministro disse também que o país “venceu a coerência”, argumentando que o país já recebe jogos da Copa Libertadores, da Copa Sul Americana, do Campeonato Brasileiro e dos campeonatos estaduais.

Quem não gostou nada da decisão foi a Globo, que deixa de transmitir o torneio e passa os direitos de transmissão ao SBT. O cômico da história é que Luís Roberto (que sempre narra os torneios), nunca se posicionou contra as copas que foram feitas durante a pandemia, mas foi só a Globo perder o direito de transmissão que ele aparece todo nervoso falando que é inadmissível fazer copa em plena pandemia. Dá para perceber o nível de hipocrisia dos funcionários da Globo? Eles só se posicionam a respeito de um tema, quando aquilo é contrario aos interesses deles. Se a emissora tivesse permanecido com o direito de transmissão, ele teria continuado calado como sempre.

Até o Doria, Governador de São Paulo, em seus poucos momentos de lucidez, teve que reconhecer que a demonização da Copa América se dá unicamente por ter sido apoiada por Bolsonaro, já que outras copas estão sendo feitas no pais mesmo na pandemia. Na coletiva ainda nesta manhã, o governador argumentou que, como são realizados jogos de futebol de outros campeonatos no estado, sua gestão não poderia “criminalizar” uma competição específica. “Se tivermos que ter uma atitude coerente, temos que parar o futebol em São Paulo. Agora, criminalizar especificamente a Copa América porque veio fruto de um entendimento do negacionista de Brasília, aí nós perdemos o bom senso”, declarou Doria.

Enfim, por mais que não pareça ser o momento ideal para se falar em copas, é necessário entender que já são feitas outras copas em plena pandemia e essa não falácia de “preocupação, pandemia, contaminação” não se sustenta ao se analisar todas as variáveis do cenário atual. Temos que concordar que esse tema, assim como vários outros, se tornou politizado. A oposição aposta fortemente no “quanto pior, melhor”, pelo menos para eles. Essa pressão, desgastando diariamente a imagem do presidente, até em acontecimentos mais banais, faz com que a tensão de se viver em quarentena, seja ainda pior. É extremamente chato, ter que se deparar dia após dia com acusações infundadas, que após um tempo, caem por terra. A Copa América provavelmente dará mais munição para a esquerda poder tecer narrativas maliciosas a respeito de um possível descaso do governo na condução da pandemia. Podemos até imaginar os desdobramentos dessa decisão na CPI do Covid. Enquanto isso, brasileiros de bem ainda oram para que tudo isso acabe logo.