Tailândia bombardeia Camboja, deixando mortos e quase 400 mil evacuados, e quebra o frágil cessar-fogo de Trump
A Tailândia iniciou uma série de ataques aéreos ao longo de sua fronteira em disputa com o Camboja, em uma grave escalada militar. O confronto eclodiu depois que ambos os países se acusaram mutuamente de violar um acordo de cessar-fogo mediado por Donald Trump há apenas seis semanas. Quatro civis cambojanos e pelo menos um soldado tailandês foram mortos, forçando a fuga de dezenas de milhares de pessoas de suas casas.
As Forças Armadas Tailandesas justificaram os ataques como retaliação, enquanto o Camboja culpou a Tailândia pela escalada da violência.
A Tailândia lançou os ataques aéreos após um de seus soldados ser morto e outros quatro ficarem feridos na manhã de segunda-feira. A Força Aérea Tailandesa afirmou estar atacando alvos militares e acusou o Camboja de mobilizar armamento pesado e reposicionar unidades de combate. O General Chaiyapruek Duangprapat, chefe do Estado-Maior do Exército, declarou que o objetivo é enfraquecer a capacidade militar do Camboja para neutralizá-lo como ameaça a longo prazo.
O Ministério da Defesa do Camboja culpou a Tailândia pela escalada, alegando que as forças tailandesas iniciaram os ataques e que o Camboja não retaliou, apesar das “ações provocativas”. O Ministro da Informação, Neth Pheaktra, confirmou a morte de quatro civis cambojanos nas províncias de Oddar Meanchey e Preah Vihear.
Fracasso da mediação de Trump e reações internacionais
O acordo de cessar-fogo assinado há seis semanas, após um conflito em julho que matou 48 pessoas, desmoronou devido a acusações mútuas de violação. A Tailândia suspendeu formalmente o acordo em novembro, citando a instalação de novas minas terrestres pelo Camboja.
O primeiro-ministro da Malásia e presidente da ASEAN, Anwar Ibrahim, pediu máxima contenção para evitar que os combates “desfaçam o trabalho cuidadoso” de estabilização regional. O primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul, rejeitou o apelo por moderação. Ele declarou que a Tailândia não tolerará violações de sua soberania e afirmou que o país “já ultrapassou esse ponto há muito tempo”, sugerindo que o “agressor” (Camboja) deve parar. O ex-primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, (que continua a ter grande influência), pediu que as forças do seu país exerçam moderação, apesar das ações tailandesas, afirmando que “a linha vermelha para a resposta já foi definida”.
Crise humanitária e raízes históricas
Os combates forçaram uma fuga em massa de civis de ambos os lados da fronteira. Mais de 385 mil civis receberam ordens de evacuação nas províncias fronteiriças tailandesas, com cerca de 50 mil já em abrigos. No lado cambojano, 1.157 famílias também foram evacuadas para áreas seguras. A disputa territorial nesta fronteira de mais de 817 km remonta a mais de um século, quando o mapeamento da área foi realizado pela França (então potência ocupante do Camboja), e o conflito é frequentemente reavivado pelo sentimento nacionalista.


