Em solo chileno, Lula acende alerta sobre ameaças à democracia e exige regulação das redes
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva emitiu um severo alerta na segunda-feira sobre uma “nova ofensiva antidemocrática” que se espalha pelo mundo e pediu medidas urgentes para conter o aumento da desinformação. Seus comentários foram feitos durante uma declaração conjunta no Chile, ao lado dos presidentes Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (Uruguai) e Pedro Sánchez (Espanha).
“Estamos vivendo uma nova ofensiva antidemocrática”, afirmou Lula. “Para resistir a esse movimento, Brasil e Espanha promoveram um encontro no ano passado. Desde então, a situação mundial se agravou.”
O presidente brasileiro enfatizou que a simples realização de eleições regulares não é mais suficiente para garantir a saúde das democracias . “Cumprir o calendário eleitoral a cada quatro anos não é mais suficiente”, afirmou. “O sistema político e os partidos caíram em descrédito.”
Lula defendeu especificamente a regulamentação das plataformas digitais como um passo crucial para proteger instituições e cidadãos da proliferação de notícias falsas e discursos de ódio. “Concordamos com a necessidade de regulamentar as plataformas digitais e combater a desinformação para restaurar a capacidade do Estado de proteger seus cidadãos”, disse ele, acrescentando: “Liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar a violência, disseminar ódio, cometer crimes e atentar contra o Estado Democrático de Direito.”
Esta reunião de alto nível ocorre em meio a uma tensão diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos. O presidente americano, Donald Trump, não apenas impôs novas tarifas ao Brasil, como também pressionou publicamente por anistia para o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que enfrenta acusações no Supremo Tribunal Federal (STF) por uma suposta tentativa de golpe.
Além de sua crítica à desinformação, Lula também se manifestou contra a desigualdade econômica global . “Não há justiça em um sistema que amplia os benefícios para o grande capital e os cortes na sociedade”, declarou. “Os super-ricos precisam fazer a sua parte nesse esforço.” Uma pesquisa recente da Genial/Quaest mostra que mais da metade dos brasileiros desaprova o trabalho do Congresso Nacional, refletindo uma desilusão mais ampla com as instituições políticas.
Durante a declaração, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez defendeu o fortalecimento do multilateralismo e o combate à manipulação algorítmica nas redes sociais. O presidente chileno, Gabriel Boric, expressou otimismo com a expansão do movimento iniciado no Chile. “Algo grande está nascendo aqui”, disse Boric, destacando o apoio de líderes de países como México, Honduras, Canadá, Austrália, África do Sul e Dinamarca.
Os chefes de Estado participarão de um almoço com representantes da sociedade civil esta tarde. A iniciativa terá continuidade em setembro com um evento paralelo na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, que deverá incluir líderes de outros continentes.
