Comandante do Exército afirma que militares não querem se envolver em política

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Em uma semana em que o presidente Jair Bolsonaro falou sobre o uso de pólvora como recurso em questões que envolvam a diplomacia, uma declaração do comandante do Exército, general Pujol, apoiada pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, mostrou que os militares não estão dispostos a se envolver em política.

Durante um evento virtual, promovido pelo Instituto para a Reforma das Relações Estado e Empresa, o ex-ministro da Defesa, Raul Jungmann, pediu que o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, comentasse a presença crescente de militares no governo Bolsonaro. Pujol foi enfático ao afirmar que essa participação é uma iniciativa do presidente, e não um desejo dos militares.

“Em nenhum momento. Não queremos fazer parte da política governamental ou política do Congresso Nacional, e muito menos queremos que a política entre dentro dos nossos quarteis. O fato de, eventualmente, militares serem chamados para assumirem cargos no governo é decisão exclusiva da administração do Executivo”, afirmou.

O comandante do Exército também disse que, nestes quase dois anos em que está à frente do Exército, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas se preocuparam “exclusivamente e exaustivamente” com assuntos militares.

A fala do comandante do Exército ocorreu dois dias depois de o presidente Jair Bolsonaro ter falado em usar a pólvora em vez da saliva ao se referir à Amazônia. Sem citar o nome de Biden, Bolsonaro se referiu a uma fala do então candidato Joe Biden sobre consequências econômicas significativas caso o Brasil não parasse de derrubar a Floresta Amazônica.https://7b029d4b34f870180b3b93f3d0bbe30d.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

“Assistimos há pouco aí um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que nós podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto? Que, quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem”, disse Bolsonaro na terça-feira (10).

Além de provocar surpresa e muitas críticas, o discurso de Bolsonaro motivou piadas nas redes sociais sobre as Forças Armadas brasileiras.

O governo do presidente Jair Bolsonaro mais do que dobrou o número de militares em cargos civis do Poder Executivo na comparação com 2018, o que não significa que todas as opiniões e atitudes de Bolsonaro tenham a concordância de integrantes das Forças Armadas. Nesta semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, general do Exército, deixou isso claro. Depois de 20 dias afastado por causa da Covid, ele fez questão de agradecer o trabalho da imprensa, alvo constante de críticas do presidente.

“É o primeiro dia de atividade no trabalho. Bom ver todos de volta. Tem muita gente que… A gente já faz parte aí de uma equipe. E revê-los é muito bom, rever o pessoal com saúde, o pessoal trabalhando. Isso é muito bom. Rever o pessoal da imprensa aí. Obrigado aí pela eterna cobertura das coisas e realmente, bastante notícias bem claras, com pouca alteração do que a gente vê efetivamente”, afirmou Pazuello na quarta-feira (11).

Pazuello também disse que a Covid traz consequências graves para quem adoece, contrariando o discurso adotado por Bolsonaro desde o início da pandemia. Vinte dias antes, Pazuello havia sido repreendido pelo presidente quando anunciou a compra de 46 milhões de doses da vacina e passou por um momento constrangedor ao lado de Jair Bolsonaro quando ainda se recuperava da Covid.https://7b029d4b34f870180b3b93f3d0bbe30d.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Nesta sexta (13), em um seminário na presença do ministro da Defesa e dos comandantes da Marinha e da Aeronáutica, o comandante do Exército, Edson Pujol, voltou a defender a separação entre as Forças Armadas e a política.

“Não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências em determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da nação. Elas são instituições de Estado, permanentes. Não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e cumprir nossas missões”, afirmou o general Edson Leal Pujol, comandante do Exército.

Mais tarde, ao ser questionado sobre a declaração de Pujol, de que as Forças Armadas não querem entrar na política, o vice-presidente, Hamilton Mourão, endossou a manifestação do comandante do Exército: “Política não pode estar dentro do quartel. Se entra política pela porta da frente, a disciplina e a hierarquia saem pelas dos fundos. O comandante do Exército coloca claramente o que é a nossa posição”.

Questionado sobre a eleição de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos, Mourão disse que não responde pelo governo, mas reconheceu a vitória. Até o momento, Jair Bolsonaro não se manifestou sobre a eleição de Biden.

“Hoje, agora, quando terminou essa situação do Arizona, e aí o Biden já foi para 306 delegados. Acho que agora ficou complicado. A não ser que o presidente Trump ainda tenha uma carta na manga que a gente desconheça”, disse.

Na noite desta sexta (13), em uma rede social, o presidente Bolsonaro escreveu: “A afirmação do general Edson Leal Pujol (escolhido por mim como comandante do Exército), que ‘militares não querem fazer parte da política’, vem exatamente ao encontro do que penso sobre o papel das Forças Armadas no cenário nacional. São elas o maior sustentáculo e garantidores da democracia e da liberdade, e destinam-se, como reza a Constituição, ‘à defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de quaisquer desses, da lei e da ordem. Devem, por isso, se manter apartidárias, ‘baseadas na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República”.

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