Vaticano inaugura sala de oração muçulmana, em meio a crescente diálogo com o Islã
Biblioteca Apostólica do Vaticano, um centro de pesquisa de renome mundial, confirmou ter reservado um espaço de oração para acadêmicos muçulmanos visitantes, uma medida sem precedentes que gerou um debate acalorado sobre a identidade da Santa Sé e o crescente diálogo com o Islã.
A revelação foi feita casualmente pelo Padre Giacomo Cardinali, vice-prefeito da Biblioteca do Vaticano, em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica. “Alguns estudiosos muçulmanos nos pediram uma sala com tapete para orações e nós a cedemos,” disse o Padre Cardinali.
Uma quebra de tradição histórica
A decisão marca uma acomodação sem precedentes nos 95 anos de história do Estado da Cidade do Vaticano. Como o centro da Igreja Católica, o Vaticano nunca havia abrigado formalmente um local de culto não católico dentro de suas fronteiras. Críticos católicos tradicionalistas condenaram o gesto, classificando-o como uma “traição” e um comprometimento da identidade católica da Santa Sé.
- Identidade em Risco: Veículos de notícias católicos conservadores, como o LifeSiteNews, citaram críticas de que a medida é uma violação da missão evangelística da Igreja. Os críticos também apontam para a falta de reciprocidade, notando que não muçulmanos são proibidos de entrar na cidade sagrada de Meca.
- Incompatibilidade Teológica: O debate é intensificado pela incompatibilidade teológica entre as duas religiões, visto que o Islã rejeita estritamente a Trindade, a divindade de Jesus e a Encarnação (a doutrina fundamental do Tawḥīd afirma a unidade absoluta de Alá).
Hospitalidade acadêmica e diálogo inter-religioso
O Padre Cardinali enquadrou a decisão como uma resposta prática e um ato de hospitalidade de rotina para apoiar a diversa comunidade acadêmica internacional da biblioteca. A Biblioteca do Vaticano, fundada em 1475 e lar de tesouros como “Alcorões incrivelmente antigos” e coleções árabes, hebraicas e chinesas, recebe até 60 pesquisadores diariamente.
A medida também está alinhada com o compromisso do Papa Leão XIV, que ascendeu ao papado em maio de 2025, de promover a “fraternidade” com o Islã. Em seu discurso de posse, o novo pontífice invocou o histórico Documento sobre a Fraternidade Humana assinado pelo Papa Francisco e pelo Grão-Imã Ahmed el-Tayeb em 2019.
Contraste com o Judaísmo
Em um contraste notável, o Vaticano tem sido criticado por sua relação com o Judaísmo. O Papa Francisco, por exemplo, omitiu o Judaísmo ao listar as diferentes religiões como “caminhos para Deus” em um discurso e organizou um serviço de oração inter-religioso no local de nascimento de Abraão, no Iraque, em 2021, para o qual nenhum judeu foi convidado. Além disso, a lei judaica ortodoxa proíbe os judeus de orar ou entrar em uma igreja católica.


