Ucrânia denuncia sabotagem russa após Kremlin alegar ataque a residência de Putin

Compartilhe

O cenário diplomático para o fim da guerra na Ucrânia tornou-se ainda mais volátil após uma série de eventos cruzados envolvendo Kiev, Moscou e a base de Donald Trump na Flórida.

O presidente Volodymyr Zelenskyy acusou abertamente o Kremlin de tentar sabotar as negociações de paz ao fabricar narrativas de ataques, enquanto o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, demonstrou desconforto com as alegações russas de uma ofensiva ucraniana contra a residência de Vladimir Putin.

Narrativas em conflito e ameaças de retaliação

A tensão escalou após o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmar que a Ucrânia tentou atingir a residência de Putin na região de Novgorod com drones. Segundo Lavrov, a defesa aérea russa teria abatido 91 dispositivos, classificando o ato como “terrorismo de Estado”. Como resposta, Moscou sinalizou que sua posição nas negociações seria endurecida e que alvos de retaliação em solo ucraniano já foram selecionados.

Zelenskyy, por sua vez, rebateu as acusações imediatamente após sua reunião com Trump em Mar-a-Lago, classificando a história como uma “completa invenção”. Para o líder ucraniano, a narrativa russa é uma tática recorrente para justificar novos bombardeios contra prédios governamentais em Kiev e evitar as medidas necessárias para o encerramento das hostilidades.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, reforçou que o país ataca apenas alvos militares legítimos e que Moscou usa a velha estratégia de projetar no adversário seus próprios planos de agressão.

O papel de Trump e a influência do Kremlin

A estratégia de comunicação da Rússia parece ter encontrado eco na Flórida. O conselheiro presidencial russo, Yuri Ushakov, informou que Putin relatou pessoalmente o suposto ataque a Trump durante uma conversa telefônica. O resultado foi imediato: em declarações a jornalistas, Trump afirmou estar “muito irritado” com a notícia, argumentando que um ataque à residência de um líder não seria apropriado, especialmente em um período tão delicado de mediação.

Embora a secretária de imprensa de Trump, Karoline Leavitt, tenha descrito o diálogo entre o republicano e Putin como “positivo”, a reação de Trump gerou preocupação entre analistas internacionais. Especialistas como Maria Popova, da Universidade McGill, observaram que o discurso de Trump em Mar-a-Lago ecoou pontos da propaganda russa, especialmente após o presidente americano ter evitado condenar os ataques massivos de drones russos contra Kiev ocorridos no mesmo fim de semana.

Garantias de segurança e o futuro do Donbas

Apesar das fricções, Zelenskyy revelou que as conversas com a equipe de Trump avançaram em termos de garantias de segurança para a Ucrânia. Um plano de paz de 20 pontos está em discussão, incluindo uma promessa de proteção americana que poderia durar 15 anos — embora Zelenskyy tenha solicitado que esse prazo fosse estendido para até 50 anos para garantir uma dissuasão histórica contra futuras agressões.

Contudo, questões territoriais continuam sendo o maior obstáculo. Enquanto o Kremlin exige a retirada das tropas ucranianas de cidades estratégicas em Donetsk e ameaça com a perda de mais territórios, Zelenskyy descarta ceder soberania.

A proposta ucraniana atual envolve a criação de uma zona econômica livre e desmilitarizada ao longo da linha de frente, condicionada a um cessar-fogo de pelo menos 60 dias e a um referendo nacional para que o povo ucraniano decida sobre os termos finais do acordo.

Próximos passos na diplomacia internacional

A expectativa agora se volta para janeiro, quando uma nova reunião conjunta entre Zelenskyy e Trump deve ocorrer, possivelmente na Casa Branca. O presidente ucraniano busca consolidar o apoio europeu nos próximos dias antes desse novo encontro. Embora Trump tenha declarado que um acordo está “mais próximo do que nunca”, a distância entre as exigências de Moscou e a resistência de Kiev sugere que o caminho para a paz ainda depende de concessões que nenhum dos lados parece disposto a fazer integralmente no momento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

www.clmbrasil.com.br