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Reunião do Brics começa no Rio; confira os temas que serão tratados

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O Rio de Janeiro sedia, nesta segunda e terça-feira, o encontro de ministros das Relações Exteriores do Brics, bloco que acaba de ganhar novos integrantes e agora reúne 11 nações. A reunião servirá como palco para que os países expressem suas posições sobre temas sensíveis do cenário internacional, como o conflito entre Rússia e Ucrânia e a situação na Faixa de Gaza sob ocupação israelense.

Com a recente expansão do grupo, a expectativa é que o Brasil, anfitrião do evento preparatório, utilize sua influência para construir consensos em torno de uma visão de mundo multilateral. A diplomacia brasileira, liderada pelo governo Lula, também mira o fortalecimento do chamado Sul Global durante as discussões.

Espera-se que a China exerça pressão sobre o Itamaraty para que o bloco se posicione de forma mais incisiva contra o isolacionismo dos Estados Unidos e as políticas tarifárias de Donald Trump. Este será o primeiro encontro de chanceleres no formato ampliado do Brics, que agora inclui, além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

Ao apresentar as prioridades de sua presidência pro tempore do Brics, o Brasil também pretende impulsionar debates sobre questões cruciais como as mudanças climáticas, inteligência artificial, cooperação na área da saúde, a reforma do Conselho de Segurança da ONU e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC).

As discussões ocorrerão no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Segundo negociadores brasileiros, os ministros trabalharão na elaboração da declaração final que será assinada pelos chefes de Estado durante a cúpula de julho, também na capital fluminense.

Diplomatas avaliam que a adesão de países com influência no Oriente Médio, como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Egito, pode fortalecer o papel do grupo na busca por soluções para a situação na Faixa de Gaza. No entanto, qualquer avanço dependeria de uma maior abertura por parte do governo de Israel, cenário considerado cada vez mais distante.

O conflito no Leste Europeu também representa um desafio para o Brics, especialmente em um momento de incertezas quanto ao futuro das negociações de paz e da manutenção dos laços entre a União Europeia e a Ucrânia. No âmbito do bloco, qualquer proposta relativa ao conflito passará pela avaliação da Rússia.

Para o Brasil, a reforma da ONU será um tema prioritário nas conversas entre os chanceleres. O país almeja um assento permanente no Conselho de Segurança e conta com o apoio da China, que já se manifestou favoravelmente à candidatura brasileira.

A proposta brasileira de revitalização da OMC pode ser interpretada como uma resposta diplomática às políticas comerciais de Trump, conforme indicou um membro do governo. A organização enfrenta um período de fragilidade e crise de credibilidade.

A China, por sua vez, deve insistir em um posicionamento mais contundente do Brics contra a política do presidente americano, buscando incluir o tema das tarifas como um dos focos centrais da cúpula de líderes.

Fontes envolvidas nas discussões relatam que o governo brasileiro já sinalizou aos Estados Unidos que não há intenção de transformar o Brics em uma frente de oposição ao Ocidente, o que teria tranquilizado a Casa Branca.

Documentos Adicionais em Vista

Além da tradicional carta que emanará da cúpula de líderes no Rio, o Brasil articula o lançamento de dois documentos específicos. Um deles abordará o financiamento para o combate às mudanças climáticas, enquanto o outro tratará da governança da inteligência artificial.

Um dos desafios será reafirmar a interligação entre o debate sobre mudanças climáticas e a necessidade de enfrentar as desigualdades globais e fortalecer o multilateralismo. Isso implica pressionar os países desenvolvidos a cumprirem seus compromissos no âmbito do Acordo de Paris e a garantirem os recursos necessários para o financiamento climático. A inteligência artificial, por sua vez, será destacada como ferramenta para a inclusão social e o avanço em áreas estratégicas.

Saúde e Clima no Foco

Para Marta Fernández, diretora do Brics Policy Center e professora da PUC-Rio, o Brasil deve priorizar o fortalecimento de órgãos multilaterais durante sua presidência do bloco.

“O Brasil, na presidência rotativa do Brics, tem buscado consolidar uma agenda propositiva do Sul Global, baseada na defesa do multilateralismo e da cooperação Sul-Sul. Para que essa agenda avance, será essencial preservar e revitalizar instâncias como a ONU, a OMC, a OMS e o próprio Acordo de Paris, justamente os pilares ignorados ou atacados pela política externa dos Estados Unidos sob Donald Trump”, avalia Fernández. “Reforçar o multilateralismo e coordenar posições é, para os países do Brics, a única estratégia viável de sobrevivência e projeção diante de um ambiente hostil e imprevisível, onde soluções bilaterais pontuais não oferecem ganhos sustentáveis nem proteção coletiva.”

Ana Garcia, professora de relações internacionais da UFRRJ, ressalta que a agenda da presidência brasileira do Brics está acelerada devido à concentração das atividades no primeiro semestre, em função da COP30 em Belém no segundo semestre.

A especialista também acredita que o uso de moedas locais no comércio será discutido, mas com menor probabilidade de se tornar um tema central.

“A redução da dependência do dólar não é uma agenda que encontra consenso. Quem tem mais interesse são a Rússia e o Irã. Além disso, o Brasil busca ajuda para a ampliação do comércio, para diminuir um pouco o peso da agenda monetária. No Brics, se você tira a China, o comércio é muito pequeno. E há um potencial grande para o Brasil”, observa Garcia.

Outro ponto em pauta entre os chanceleres serão os critérios para a entrada de novos membros no Brics. Atualmente, para ser admitido, o país interessado deve, entre outras condições, manter boas relações diplomáticas com os demais integrantes, ser membro da ONU e não adotar sanções sem a autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

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