Reino Unido, Canadá e Austrália desafiam Israel e reconhecem o Estado da Palestina em ação coordenada
Em um movimento diplomático coordenado, os governos do Canadá, do Reino Unido e da Austrália anunciaram neste domingo o reconhecimento oficial do Estado da Palestina. A decisão, que busca revitalizar os esforços para uma solução de dois Estados, foi descrita pelos líderes como uma forma de empoderar aqueles que defendem a coexistência pacífica e o fim do Hamas.
O Reino Unido reconheceu formalmente a Palestina como um estado independente, um anúncio feito por Keir Starmer. A medida, de caráter profundamente simbólico, ocorre 70 anos após o fim do mandato britânico na Palestina e o subsequente estabelecimento do Estado de Israel.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou que o reconhecimento da Palestina como Estado independente visa “manter viva a possibilidade de paz e uma solução de dois Estados”. A decisão, segundo ele, não deve ser interpretada como uma punição a Israel.
No entanto, a imprensa internacional aponta que o momento e a natureza da decisão britânica estão diretamente ligados à condução da campanha militar de Israel em Gaza. Observadores sugerem que o movimento provavelmente não teria sido feito se o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tivesse agido com menos ferocidade e demonstrado maior respeito pelo direito internacional durante o conflito.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, destacou que o reconhecimento é parte de um “esforço internacional coordenado para criar impulso para uma solução de dois Estados”, que deve começar com um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns capturados nos ataques de 7 de outubro de 2023.
Críticas a Israel e “recompensa ao terrorismo”
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, foi enfático ao justificar a medida, criticando a política do atual governo israelense. Segundo ele, Israel tem trabalhado “metodicamente para impedir que a perspectiva de um Estado palestino seja estabelecida”, com a expansão de assentamentos na Cisjordânia, considerada ilegal sob o direito internacional. Carney também mencionou o impacto da ofensiva militar em Gaza, que “matou dezenas de milhares de civis” e causou uma “fome devastadora”, em violação ao direito internacional.
Em resposta, um porta-voz do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou o reconhecimento como “absurdo” e uma “recompensa ao terrorismo”. No entanto, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, rebateu a crítica, afirmando que a ação não é uma recompensa para o Hamas, e que o Reino Unido planeja introduzir novas sanções contra figuras importantes do grupo. Starmer reiterou que a solução de dois Estados é o oposto da visão do Hamas, o que garante que a organização “não terá futuro, nem papel no governo, nem papel na segurança”.
Apelo humanitário e reação palestina
Além de defender o reconhecimento, o primeiro-ministro Starmer fez um apelo veemente a Israel para que permita a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza. Ele classificou a crise humanitária como “absolutamente intolerável”, com o bombardeio e a fome atingindo níveis alarmantes. “Essa morte e destruição horrorizam a todos nós. Elas precisam acabar”, disse ele.
A Autoridade Palestina celebrou a decisão, classificando-a como um “passo irreversível” que preserva a solução de dois Estados e aproxima a independência e a soberania palestinas. Varsen Aghabekian Shahin, o ministro das Relações Exteriores palestino, afirmou que a medida é um “movimento que nos aproxima da soberania e da independência” e que, embora não encerre a guerra imediatamente, representa um “avanço que precisamos desenvolver e ampliar”.
Lista de países pode aumentar
A expectativa é que, até o final da próxima semana, mais de 150 países tenham reconhecido a Palestina. Nações como Bélgica, França, África do Sul, Canadá, México, Brasil, Chile e Espanha estão entre os países que já realizaram o reconhecimento ou indicaram que estão em vias de fazê-lo. No entanto, é importante notar que alguns desses reconhecimentos podem vir com condições específicas, refletindo a complexidade das relações diplomáticas e do conflito israelo-palestino.
Ainda que a medida seja simbólica em muitos aspectos, ela tem um peso político significativo. O reconhecimento formal por países de grande influência pode pressionar por um avanço nas negociações de paz e reforçar a legitimidade da Palestina no cenário mundial. A escalada desses reconhecimentos sugere um alinhamento crescente da comunidade internacional em torno da busca por uma solução de dois Estados.


