Nível do mar aumentará drasticamente mesmo com metas climáticas, alertam cientistas
A humanidade enfrentará um desafio sem precedentes na segunda metade do século XXI devido à elevação do nível do mar, mesmo que o aquecimento global seja limitado à ambiciosa meta de 1,5 grau Celsius. Essa é a conclusão de uma nova pesquisa divulgada por cientistas nesta terça-feira.
O ritmo de subida dos oceanos tem dobrado a cada três décadas e, mantendo a tendência atual, dobrará novamente até 2100, atingindo cerca de um centímetro por ano. “Limitar o aquecimento global a 1,5°C seria uma grande conquista e evitaria muitos impactos climáticos terríveis”, afirmou Chris Stokes, professor da Universidade de Durham, na Inglaterra, e principal autor do estudo. No entanto, ele alertou que “mesmo que essa meta seja cumprida, a elevação do nível do mar provavelmente acelerará a taxas às quais será muito difícil se adaptar”.
Impactos Bilionários e Deslocamento Humano
Estudos anteriores já indicavam que, sem medidas de proteção como muros de contenção, um aumento de apenas 20 centímetros no nível do mar até 2050 poderia causar cerca de US$ 1 trilhão em danos anuais por inundações nas 136 maiores cidades costeiras do mundo. Atualmente, aproximadamente 230 milhões de pessoas vivem em áreas a menos de um metro do nível do mar, e mais de um bilhão residem a menos de 10 metros.
A elevação do nível do mar é impulsionada, em igual medida, pelo derretimento de calotas polares e geleiras, e pela expansão da água do oceano conforme ela absorve mais de 90% do calor extra decorrente das mudanças climáticas.
Pontos de Inflexão e Cenários Alarmantes
A temperatura da superfície da Terra já está 1,2°C acima dos níveis pré-industriais, o que, segundo o estudo, é suficiente para elevar o nível do oceano em vários metros ao longo dos próximos séculos. As projeções atuais indicam que o mundo caminha para um aumento de 2,7°C até o final do século.
Uma revisão da literatura científica, focada na crescente contribuição das calotas polares para a elevação dos mares, revela um cenário mais sombrio do que as estimativas anteriores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2021.
Naquele ano, o IPCC projetou uma elevação “provável” de 40 a 80 centímetros até 2100, mas sem incluir as calotas polares devido à incerteza. Desde então, o quadro se tornou mais claro e preocupante. “Provavelmente estamos caminhando para números mais altos dentro dessa faixa, possivelmente mais altos”, disse Stokes.
Dados de satélite mostram que as calotas polares, que contêm água congelada suficiente para elevar os oceanos em cerca de 65 metros, são muito mais sensíveis às mudanças climáticas do que se imaginava. O volume de gelo derretido ou que se desprende da Groenlândia e da Antártica Ocidental, que hoje é de 400 bilhões de toneladas por ano, quadruplicou nas últimas três décadas.
As estimativas sobre os “pontos de inflexão” – o aquecimento global necessário para levar as calotas polares a um declínio irreversível – também mudaram. “Costumávamos pensar que a Groenlândia não faria nada até que o mundo esquentasse 3°C”, explicou Stokes. “Agora, o consenso para os pontos de inflexão para a Groenlândia e a Antártida Ocidental é de cerca de 1,5°C.”
Cientistas também analisaram períodos recentes na história da Terra com temperaturas e níveis de CO2 comparáveis. Há cerca de 125.000 anos, os níveis do mar eram de dois a nove metros mais altos do que hoje, apesar de temperaturas médias e níveis de CO2 significativamente menores. Um período um pouco mais quente, há 400.000 anos, elevou os oceanos em 6 a 13 metros.
E há três milhões de anos, quando os níveis de CO2 eram semelhantes aos atuais, os oceanos estavam 10 a 20 metros mais altos.
Para frear a elevação do nível do mar causada pelas calotas polares, é crucial reduzir as temperaturas atuais. Stokes enfatizou que “para desacelerar a elevação do nível do mar a partir das camadas de gelo para um nível administrável, é necessária uma meta de temperatura de longo prazo próxima a +1°C, ou possivelmente menor”.