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Medo da taxa de Trump: empresários clamam por novo rumo nas negociações sem Lula

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Com a surpresa da sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, empresários de diversos setores estão aconselhando o governo Lula a buscar apoio no setor privado para resolver a questão diplomaticamente e evitar a escalada da polarização política.

A medida de Trump, anunciada na última quarta-feira (9/7) e com previsão de entrada em vigor em 1º de agosto, teria sido motivada por “ações e negociações comerciais” do Brasil, mas também ligada ao descontentamento de Trump com o julgamento de Jair Bolsonaro pelo STF.

Desafios Diplomáticos e a busca por mediadores

Na quinta-feira (10/7), o presidente Lula anunciou a criação de um comitê de empresários para acompanhar o tema, com as ações diplomáticas a cargo do Itamaraty. Contudo, em conversas reservadas, empresários ressaltam que Lula tem se isolado do setor, uma postura diferente de seus mandatos anteriores.

Trump já sinalizou que não pretende conversar com Lula sobre as taxas por enquanto. Lula, por sua vez, prometeu brigar em todas as esferas – incluindo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o BRICS – para evitar a tarifação.

Representantes do setor privado alertam que uma postura diplomática rígida contra os Estados Unidos pode sair ainda mais cara. Alguns sugerem que o próprio Lula, ou seu assessor internacional, Celso Amorim, talvez não sejam os nomes ideais para conduzir as negociações. Há quem veja o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enfrentando dificuldades também.

Nomes Sugeridos para a Mediação

Diante do cenário, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, é cotado por alguns como uma figura capaz de dialogar. Outra alternativa levantada é a convocação de alguém do setor privado – um grande empresário, ex-político ou ex-diplomata de prestígio.

Fábio Barbosa, presidente do conselho de administração da Natura Cosméticos S.A., enfatizou a necessidade de avaliar cuidadosamente os próximos passos: “A hora é de avaliar bem nossos próximos movimentos. A tarifa só entra em vigor no dia 1º de agosto. Políticos, empresários e diplomatas podem ajudar a construir um caminho”.

Ricardo Lacerda, fundador do BR Partners, elogiou a reação inicial de Lula, mas criticou a mistura de assuntos políticos com questões comerciais: “Não é correto misturar assuntos de eventuais abusos do STF [Supremo Tribunal Federal] com tarifas que prejudicam nossos interesses comerciais. É lamentável que grupos políticos estejam investindo na polarização contra os interesses do povo brasileiro”.

Rogelio Golfarb, sócio da Zag Work Consultoria, ex-presidente da Anfavea e ex-diretor da Ford na América do Sul, alertou que a contaminação política pode dificultar o avanço das negociações: “O caminho passa por um jogo de xadrez de diplomacia muito bem construído, no qual o Brasil não se mostre subserviente, mas ao mesmo tempo deixe portas abertas para a negociação, sem explodir as pontes por onde passa. É uma tarefa de gente muito capaz da área da diplomacia para construir esse caminho”.

Horácio Lafer Piva, membro de conselhos como Klabin e Iedi, acredita que os prejuízos são inevitáveis. Ele descreveu a situação como “bizarra em forma e conteúdo” e sugere serenidade para avaliar os custos financeiros e riscos políticos.

Internamente, Lula e seus aliados têm associado as consequências econômicas da tarifa a Bolsonaro e a outras lideranças da oposição, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Tarcísio, por sua vez, tem tentado se posicionar como um possível negociador com Trump, buscando contato com ministros do STF e com o chefe da embaixada dos EUA no Brasil.

João Camargo, presidente do conselho do grupo Esfera Brasil, que vê Alckmin como possível mediador, reforça a importância da diplomacia e do diálogo: “O momento exige diplomacia, firmeza e clareza. Precisamos buscar um acordo que proteja os interesses do Brasil sem comprometer a boa relação com os Estados Unidos. Não podemos cair na armadilha do confronto. É pelo diálogo estratégico que vamos garantir previsibilidade, competitividade e segurança jurídica para os nossos exportadores”.

Para Alexandre Ostrowiecki, presidente do conselho de administração da Multilaser, a melhor estratégia seria uma reaproximação com os Estados Unidos, com a redução de tarifas que prejudicam ambas as economias.

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