Close

Lula reage a Trump: “inaceitável intromissão” e ameaça de retaliação comercial

Compartilhe

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu longas entrevistas na noite de quinta-feira (10/7) ao Jornal Nacional (Globo) e ao Jornal da Record, onde abordou a decisão de Donald Trump, presidente dos EUA, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, segundo Trump, foi motivada, entre outros pontos, pelo processo judicial que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe. Em carta direcionada a Lula, Trump exigiu, em letras garrafais, a interrupção imediata do julgamento de seu aliado político.

Lula criticou duramente a postura de Trump. “É inaceitável que o presidente Trump mande uma carta pelo site dele e comece dizendo que é preciso acabar com a caça às bruxas. Isso é inadmissível”, declarou ao Jornal Nacional. O presidente brasileiro reforçou que “quem cometeu um erro vai ser punido” e chegou a comparar a situação com a invasão do Capitólio nos EUA, sugerindo que, se o mesmo ocorresse no Brasil, Trump seria processado e, se culpado, preso. “O que o presidente Trump tem que saber é que se aqui no Brasil ele tivesse feito o que ele fez nos Estados Unidos com as eleições, ele também estaria sendo processado, estaria sendo julgado. E, se fosse culpado, ele seria preso”, disse.

Lula enfatizou a importância do respeito à soberania nacional: “Você nunca viu me meter em uma decisão de Justiça americana. Nunca viu. E o que eu espero é reciprocidade, que ele também não se meta nos problemas brasileiros.” O presidente afirmou que Trump “não pode pensar que foi eleito para ser xerife do mundo” e que “aqui no Brasil, quem manda somos nós, brasileiros”. Ele ainda insinuou que, “se Trump conhecesse um pouquinho” o Brasil, “ele teria mais respeito”.

Reciprocidade e críticas à justificativa de Trump

Questionado sobre a resposta do Brasil às tarifas, Lula defendeu a calma, mas prometeu firmeza. “Eu não tomo decisão com 39 ºC de febre. O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário e o Brasil vai tentar, junto com a OMC [Organização Mundial do Comércio] e outros países, fazer com que a OMC tome uma posição para saber quem é que está certo ou que está errado”, afirmou. Ele indicou que, se não houver solução via negociação, o Brasil aplicará a reciprocidade a partir de 1º de agosto, quando a taxação americana deve entrar em vigor. “Se ele vai cobrar 50 de nós, nós vamos cobrar 50 deles”, ameaçou, destacando que o Brasil “não aceita intromissão nas coisas do Brasil”.

Lula também contestou o argumento de Trump de que a relação comercial é prejudicial aos EUA, classificando-o como “mentira” e “falta de informação”. Ele apresentou dados que demonstram um déficit comercial acumulado pelo Brasil de US$ 410 bilhões com os EUA nos últimos 15 anos, e um déficit de US$ 7 bilhões em 2023. “Será que ninguém do Tesouro explicou isso para ele antes de ele escrever aquela carta absurda?”, questionou.

Influência dos BRICS Descartada

Sobre a possibilidade de o bloco BRICS ter influenciado a decisão de Trump, Lula descartou. Ele destacou que o BRICS representa “metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial”, e que os países do grupo buscam independência em suas políticas e comércio mais livre. “Nós cansamos de ser subordinados ao norte. Nós queremos ter independência nas nossas políticas, queremos fazer comércio mais livre. E as coisas estão acontecendo de forma maravilhosa”, avaliou.

Lula mencionou ainda as discussões sobre uma moeda própria para o BRICS ou transações sem a necessidade do dólar. “Nós não temos a máquina de rodar dólar, só os Estados Unidos que têm. Nós não precisamos disso para fazer comércio exterior”, defendeu. Ele concluiu que “o presidente Trump precisa se cercar de pessoas que o informem corretamente sobre como é virtuosa a relação Brasil-Estados Unidos”.

Próximos Passos

O presidente prometeu se reunir com empresários exportadores para os EUA, especialmente dos setores de agronegócio, aço e aviação, para entender a situação e buscar negociações. No entanto, deixou claro que, se as negociações se esgotarem, o Brasil aplicará a Lei da Reciprocidade, aprovada por unanimidade no Congresso Nacional. “Se existe algum empresário que acha que o governo brasileiro tem que ceder e fazer tudo que o presidente do outro país quer, sinceramente, esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro”, declarou, enfatizando que o “Brasil quer ser respeitado no mundo”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

www.clmbrasil.com.br