Lula declara não ter vínculos com Trump e exige respeito à soberania do Brasil

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Em uma entrevista recente à BBC, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva abordou a complexa relação com o presidente americano Donald Trump, afirmando não ter nenhum vínculo com ele. Lula explicou que, apesar de sua disposição para o diálogo, Trump se recusou a estabelecer qualquer comunicação, preferindo manter uma relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e não com o Brasil como nação.

O presidente brasileiro ressaltou que sempre manteve laços estreitos e cordiais com todos os líderes mundiais, incluindo ex-presidentes americanos como George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden, além de chefes de Estado da Europa, Rússia, Ucrânia e diversos países da América Latina. “Não há conexão”, declarou Lula sobre seu relacionamento com Trump.

Acusações e condições para o diálogo

Lula lamentou a falta de civilidade de Washington, que, segundo ele, “não quer conversar”. O presidente destacou que Trump anunciou tarifas contra o Brasil por meio de redes sociais, um método que considera desrespeitoso entre dois chefes de Estado. “Ele tem que negociar com o Brasil”, afirmou Lula, enfatizando que ele, e não Bolsonaro, é o presidente em exercício.

O líder socialista criticou duramente a interferência de autoridades americanas na política interna brasileira. Ele mencionou a declaração do secretário de Estado Marco Rubio sobre possíveis sanções e a revogação de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal, classificando-a como um ato de “desrespeito a um país soberano”. Lula defendeu a democracia brasileira, citando o julgamento de Bolsonaro como prova de que a justiça “é para todos” no país. Ele comparou a situação à invasão do Capitólio por apoiadores de Trump, sugerindo que o presidente americano também teria sido julgado no Brasil por um ato similar.

Lula insistiu que as acusações de Trump sobre um suposto déficit comercial com o Brasil são “eminentemente políticas” e desconsideram o superávit de US$ 410 bilhões que os EUA tiveram nos últimos 15 anos. Ele lamentou que a postura de Trump se baseie na política de seu aliado Bolsonaro, ignorando a soberania e o respeito às instituições do Brasil.

Soberania e diálogo civilizado: as linhas vermelhas

Apesar das tensões, Lula reiterou sua abertura para um diálogo civilizado com Trump, mas deixou claro que existem “linhas vermelhas” inegociáveis. Ele afirmou que a soberania nacional e a democracia brasileira não estão na mesa de negociação. “Elas são nossas; pertencem ao povo brasileiro”, concluiu.

Questionado sobre um possível encontro com Trump na Assembleia Geral da ONU, Lula afirmou que o cumprimentaria por ser um “cidadão civilizado” e que não tem “nenhum problema pessoal” com ele. No entanto, fez questão de ressaltar que Trump é “o presidente dos Estados Unidos, não o imperador do mundo”. Lula disse que a relação entre os dois países não precisa ser baseada em alinhamentos ideológicos, mas sim no respeito e nos interesses de suas respectivas nações.

O presidente brasileiro enfatizou que o respeito é uma condição fundamental. Ele lembrou a decisão americana de publicar a imposição de tarifas na imprensa brasileira, em vez de responder a uma carta formal do governo, o que considerou “inaceitável”. Lula também defendeu a regulamentação das grandes empresas de tecnologia (Big Techs) que operam no Brasil, reafirmando que esta é uma prerrogativa soberana, assim como a decisão dos EUA de regulamentar as empresas que operam em seu território.

Lula concluiu a entrevista reforçando sua visão de que o Brasil precisa ser tratado com dignidade e respeito, e que está disposto a negociar qualquer questão — seja comercial, econômica ou fiscal — desde que a soberania e as instituições do país sejam preservadas.

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