Israel ameaça resposta “assimétrica” a reconhecimento da Palestina
Ministros do governo israelense teriam alertado importantes países europeus que qualquer reconhecimento unilateral de um Estado palestino poderia levar Israel a adotar medidas unilaterais de retaliação, incluindo a possível anexação de partes da Cisjordânia. As informações foram divulgadas em reportagens na segunda-feira.
O ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, teria advertido diretamente o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noel Barrot, e o secretário de Relações Exteriores britânico, David Lammy. Segundo o jornal Haaretz, Dermer indicou que Israel poderia responder ao reconhecimento de um Estado palestino anexando a Área C da Cisjordânia e legalizando postos avançados não autorizados.
De forma semelhante, o ministro das Relações Exteriores, Gideon Sa’ar, teria transmitido a mesma mensagem a homólogos no Reino Unido, França e outras nações, alertando que ações contra Israel seriam respondidas com medidas como a extensão da soberania sobre assentamentos na Cisjordânia e partes do Vale do Jordão, conforme relatado pelo Israel Hayom.
Divisão europeia e contexto atual
Enquanto os Estados Unidos se mantêm à margem, a decisão de outros países europeus ainda está em deliberação. Alemanha, Hungria e República Tcheca se opuseram ao reconhecimento unilateral, enquanto Espanha (que já reconheceu um Estado palestino no ano passado) e Malta (que anunciou apoio à medida) devem declarar apoio a países que optarem pelo reconhecimento.
A França, que está considerando o reconhecimento, seria a potência europeia mais significativa a tomar tal medida, uma decisão que historicamente os EUA também resistem. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já declarou que o reconhecimento francês seria um “grande prêmio para o terror”, argumentando que isso seria visto como uma recompensa pelo ataque do Hamas em 7 de outubro.
No entanto, a campanha militar de Israel em Gaza tem gerado simpatia global pelos palestinos e fortalecido o apoio ao reconhecimento de um Estado palestino em algumas capitais. As ameaças de Israel ocorrem em meio a uma crescente oposição europeia às suas ações em Gaza.
Pressão internacional e revisão de acordos
A Suécia, por exemplo, anunciou na segunda-feira que convocaria o embaixador israelense para protestar contra a recusa de Israel em permitir a livre entrada de ajuda humanitária em Gaza. O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, afirmou que não apoia a atual postura do governo israelense.
O bloqueio de ajuda de Israel, que causou grave escassez de alimentos e medicamentos, foi parcialmente suspenso na semana passada devido à crescente indignação internacional. Embora centenas de caminhões de ajuda tenham entrado em Gaza desde então, autoridades da ONU e trabalhadores humanitários locais apontam que a nova ação militar israelense na Faixa torna a distribuição eficaz quase impossível.
Kristersson também se manifestou a favor de uma reavaliação do acordo de associação entre a União Europeia e Israel, que o bloco ordenou para verificar o respeito de Israel aos direitos humanos e princípios democráticos. Segundo diplomatas franceses, 17 dos 27 estados-membros da UE apoiam uma revisão do acordo, com a Alemanha sendo a abstenção mais notável. O primeiro-ministro sueco ressaltou que as ações atuais do governo israelense estão “pressionando mais países da UE a impor exigências mais rigorosas a Israel”.
