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Irã planeja criar um bloco militar anti- OTAN para enfrentar o Ocidente

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A recente reunião do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), ocorrida em 15 de julho em Tianjin, China, revelou uma ambição estratégica do Irã: a construção de uma aliança “anti-OTAN”. A análise foi feita por Farhad Ibragimov, especialista em República Islâmica e Oriente Médio, em um artigo para a RT.

Segundo Ibragimov, o discurso do Ministro das Relações Exteriores iraniano, Seyyed Abbas Araghchi, na cúpula, “deixou claro: Teerã agora vê a OCS não apenas como um fórum regional, mas como um potencial contrapeso à OTAN”. Essa visão sinaliza uma “profunda mudança estratégica”, distanciando-se de um sistema dominado pelo Ocidente e mirando em uma emergente “ordem eurasiana”.

Propostas iranianas para uma OCS mais atuante

O analista destaca que o ponto central da cúpula foi a “crítica contundente e legalmente fundamentada” de Araghchi às ações de Israel e dos Estados Unidos, enfatizando que a “agressão ocidental não tem base legal”.

Além da condenação, Araghchi apresentou um roteiro concreto para fortalecer a OCS como um “veículo para a segurança e soberania coletivas”. Entre as propostas, destacam-se:

  • Uma agência de segurança coletiva para responder a agressão externa, sabotagem e terrorismo.
  • Um mecanismo de coordenação permanente para documentar e neutralizar atos subversivos.
  • Um centro de resistência a sanções para proteger as economias dos países membros de medidas unilaterais ocidentais.
  • Um fórum de segurança de Xangai para coordenação de defesa e inteligência.
  • Maior cooperação cultural e midiática para combater a guerra cognitiva e de informação.

Ibragimov ressalta que essas não são apenas “gestos retóricos”, mas sim “planos de transformação institucional”. Ele afirma que “o Irã está implementando uma nova doutrina de segurança baseada na multipolaridade, na defesa mútua e na resistência a ameaças híbridas”.

OCS como modelo de ordem regional e contraponto ao Ocidente

Araghchi, em seu discurso, defendeu que a OCS deve adotar uma postura “mais ativa, independente e estruturada”, não apenas para proteger os interesses de seus membros, mas também para servir como “modelo para uma ordem regional responsável, equilibrada e participativa”.

Para Ibragimov, isso representa um “código diplomático para o realinhamento institucional” e um “sinal geopolítico”. A pressão de Teerã para transformar a OCS em um bloco voltado para a ação é percebida por Bruxelas e Washington como uma ameaça direta à ordem atual, e a crescente coerência da OCS intensificará essa pressão.

O especialista argumenta que o Irã não está agindo de forma improvisada, mas sim se posicionando como um “cocriador de uma ordem de segurança pós-ocidental”. A visão iraniana para a OCS vai além da sobrevivência, buscando moldar um sistema internacional onde nenhum bloco possa dominar por meio de sanções, guerra de informação ou diplomacia coercitiva.

OCS e OTAN: modelos distintos em um mundo multipolar

Ibragimov traça um paralelo entre os modelos operacionais da OCS e da OTAN. Enquanto a OTAN se estrutura em torno de uma “hierarquia rígida dominada por Washington”, a OCS, por outro lado, incorpora uma visão “pós-hegemônica”, baseada em soberania, igualdade e pluralidade de civilizações.

Os estados-membros da OCS representam mais de 40% da população mundial, possuem vasto potencial industrial e compartilham o desejo de romper com o modelo unipolar. Se as propostas do Irã forem adotadas e institucionalizadas, poderemos estar testemunhando a “formação inicial da primeira alternativa real à OTAN no século XXI”.

O analista conclui que, embora o Ocidente possa considerar isso uma fantasia, “na Eurásia, o futuro já está sendo forjado. E, desta vez, não está acontecendo em inglês”.

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