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Irã está afundando em nível crítico e coloca centenas de milhares de pessoas em risco

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O esgotamento acelerado dos aquíferos subterrâneos no Irã está provocando um afundamento rápido e extenso do solo em todo o país, um fenômeno conhecido como subsidência, de acordo com uma nova pesquisa. O problema é tão grave que especialistas alertam para um aumento no risco de escassez de água e insegurança alimentar para centenas de milhares de pessoas.

Dados de satélite da Agência Espacial Europeia, analisados por pesquisadores da Universidade de Leeds (Reino Unido) entre 2014 e 2022, revelaram que mais de 31.400 quilômetros quadrados do Irã (uma área equivalente ao estado americano de Maryland) estão afundando a uma velocidade superior a 10 milímetros por ano.

Em alguns locais, a situação é dramática. Perto da cidade de Rafsanjan, no centro do Irã, o solo chegou a cair mais de 34 centímetros anualmente. A principal autora do estudo, Jessica Payne, destacou que as taxas de subsidência no Irã estão entre as mais rápidas do mundo, rivalizando com as da Cidade do México e do Vale Central da Califórnia.

A relação com a agricultura e a seca

O estudo, publicado no Journal of Geophysical Research: Solid Earth, aponta que a causa do afundamento é a extração excessiva de águas subterrâneas. No Irã, cerca de 60% do abastecimento de água depende desses aquíferos, e a seca persistente agrava o problema.

A pesquisa encontrou uma forte correlação entre as áreas de afundamento mais rápido e a presença de agricultura — 77% das ocorrências acima de 10 mm por ano estavam ligadas à atividade agrícola. Em Rafsanjan, por exemplo, o uso intensivo de água para as plantações de pistache contribui para o colapso. Payne explica que uma queda de 34 cm/ano significa que o solo afundará de 3 a 4 metros em uma década, o que é “realmente grave”.

Perda irreversível de capacidade

A descoberta mais preocupante é a natureza irreversível da maior parte dessa subsidência. A pesquisadora Jessica Payne compara os aquíferos a um “balde de areia” com camadas de areia e lama separadas pela água.

Quando a água é extraída em excesso, os grãos de areia e lama se compactam. Essa compactação permanente faz com que o solo afunde de forma definitiva, perdendo permanentemente sua capacidade de armazenamento de água, mesmo que a chuva retorne ao sistema.

O geofísico Manoochehr Shirzaei, da Virginia Tech, enfatizou que isso “agrava a escassez de água durante as secas, reduz a resiliência à variabilidade climática e torna a recuperação cada vez mais impossível”.

Riscos para a população e a infraestrutura

Estima-se que cerca de 650.000 pessoas estejam expostas a um risco maior devido a esta instabilidade do solo. Shirzaei alerta que a formação de fissuras e a instabilidade estrutural ameaçam edifícios, estradas e ferrovias. Grandes cidades iranianas, incluindo Teerã e Karaj, estão diretamente afetadas.

O Irã não está isolado. A subsidência por extração de água subterrânea também é um problema grave em metrópoles como Cidade do México, grandes áreas da China, Itália e Estados Unidos. Na Cidade do México, por exemplo, o afundamento do solo foi apontado como um fator que contribuiu para o colapso de uma linha de metrô em 2021.

Apesar dos riscos, o trabalho de pesquisa de Payne e seus colegas ressalta a urgência de gerenciar o uso de águas subterrâneas para mitigar a perda permanente da capacidade hídrica do país.

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