Impacto em cadeia: tarifa de 50% nos EUA sobre Brasil preocupam empresários
Associações e entidades empresariais brasileiras expressam profunda preocupação com o recente anúncio de Donald Trump de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. O setor produtivo já prevê impactos negativos em diversos segmentos e alerta para a seriedade da medida.
O economista-chefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, estima que o PIB brasileiro pode encolher entre 0,3 e 0,4 ponto percentual caso as tarifas sejam aplicadas sem retaliações significativas. Ele calcula que a tarifa efetiva de importação para produtos brasileiros pode aumentar em 35,5 pontos percentuais. Apesar da inclinação política para retaliação, Ramos prevê que os exportadores brasileiros pressionarão o governo a reduzir a tensão.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) rechaça a justificativa econômica para a tarifa e defende que a prioridade do governo brasileiro seja intensificar as negociações com a administração Trump para preservar a relação comercial histórica entre os países. Ricardo Alban, presidente da CNI, ressalta que “os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano”.
A Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) manifestou “profunda preocupação”, alertando para “impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas”. A entidade instou os governos de Brasil e EUA a retomar com urgência um diálogo construtivo para uma solução negociada, baseada em “racionalidade, previsibilidade e estabilidade”, que preserve os laços econômicos e promova a prosperidade mútua. A Amcham Brasil destacou que a relação bilateral sempre foi pautada pelo respeito e confiança, e que o comércio entre as nações tem sido superavitário para os EUA nos últimos 15 anos.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan) também expressou preocupação e defendeu a intensificação da diplomacia para uma “solução negociada”. A Firjan reforçou o longo histórico de relações benéficas e parcerias econômicas entre Brasil e Estados Unidos, destacando que os EUA são o principal investidor externo direto no Brasil e o segundo maior parceiro comercial do país.
Setores específicos temem “isolamento comercial”
A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) enfatizou que a tarifa de 50% torna as operações “praticamente inviáveis” para as empresas brasileiras, afetando faturamento e empregos. José Ricardo Roriz, presidente do conselho da Abiplast, alertou que os impactos se estendem a toda a cadeia produtiva, pressionando setores que dependem de embalagens, como alimentos, componentes automotivos e fertilizantes. Roriz expressou preocupação com o “isolamento comercial”, que “desestimula o investimento produtivo e compromete a credibilidade do Brasil como parceiro confiável”, gerando incerteza em um momento que se deveria atrair investimento estrangeiro. Ele defendeu que o Brasil deve focar em abrir mercados, fortalecer cadeias industriais e garantir segurança jurídica e diplomática, orientando sua atuação internacional pela “neutralidade e pragmatismo”.
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), por meio de seu presidente-executivo, Haroldo Ferreira, lamentou a notícia, classificando-a como um “grande balde de água fria”. O setor, que em junho registrou um crescimento de 24,5% nas exportações, teve os EUA como principal motor, com um aumento de 40% nas vendas para o país. Ferreira expressou “surpresa e preocupação” com o anúncio, que pode frear a recuperação do mercado nos Estados Unidos.
