Conversações de paz Ucrânia-Rússia: Kiev e Europa revisam plano dos EUA, mas desconfiança persiste
A Ucrânia alterou significativamente o rascunho de um “plano de paz” inicialmente concebido pelos EUA e pela Rússia para encerrar o conflito, eliminando várias das exigências consideradas maximalistas de Moscou. Enquanto o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy pressiona para a participação europeia, líderes do continente alertam que um acordo rápido é improvável.
As negociações recentes, que incluíram uma rodada de conversas de alto nível na Suíça no último domingo, resultaram na redução do plano original de 28 pontos para apenas 19. Fontes indicam que o Presidente Zelenskyy poderá se reunir com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca ainda esta semana, em meio a intensos contatos telefônicos entre Kiev e Washington.
O rascunho original, elaborado no mês passado pelo enviado especial de Vladimir Putin, Kirill Dmitriev, e o representante de Trump, Steve Witkoff, continha disposições amplamente vistas como favoráveis a Moscou. Exigia que a Ucrânia se retirasse de cidades sob seu controle na região oriental de Donbas, limitasse o tamanho de suas forças armadas e renunciasse à adesão à OTAN.
No entanto, durante as negociações lideradas pelo Secretário de Estado americano, Marco Rubio, e pelo chefe de gabinete de Zelenskyy, Andriy Yermak, o plano foi substancialmente revisado. Kiev e seus parceiros europeus agora insistem que:
- A linha de frente existente deve servir como ponto de partida para quaisquer discussões territoriais.
- Não pode haver reconhecimento de terras tomadas militarmente pela Rússia.
- A Ucrânia deve manter o poder de tomar suas próprias decisões sobre a adesão à União Europeia e à OTAN – questões que o Kremlin deseja vetar ou condicionar.
O primeiro vice-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Sergiy Kyslytsya, informou ao Financial Times que as questões mais espinhosas, como as relacionadas à OTAN e à UE, foram “colocadas entre parênteses” para serem decididas posteriormente por Trump e Zelenskyy.
Reações dos EUA e da Rússia
Rubio elogiou as conversas de domingo como “muito, muito positivas”. Em uma reviravolta no tom, Trump também se mostrou otimista em uma postagem no Truth Social, levantando a possibilidade de “grandes progressos” estarem sendo feitos, apesar de dias antes ter acusado a liderança ucraniana de ter “zero gratidão”.
Após ser informado sobre as negociações pela delegação ucraniana, o Presidente Zelenskyy descreveu a versão mais recente do plano como “mais realista” e encorajou o Vice-Presidente dos EUA, JD Vance, a garantir o envolvimento dos países europeus no processo, um pedido que Vance teria aceitado.
Em um sinal claro de que a versão revisada ainda não atende a todas as exigências do Kremlin, o principal assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, disse que Moscou buscaria “reformular” partes do plano, embora considerasse “muitas disposições” aceitáveis. Ele, contudo, rejeitou firmemente uma contraproposta europeia separada que altera pontos-chave relativos à OTAN e ao território, classificando-a como “completamente contraproducente”.
Europa exige envolvimento total e cautela
Líderes europeus, que foram pegos de surpresa na semana passada pelo vazamento do plano original (que parece ter sido escrito em russo), saudaram o progresso, mas foram enfáticos ao exigir um envolvimento pleno da Europa e a presença da Rússia para que as negociações avancem substancialmente.
O Presidente do Conselho Europeu, António Costa, elogiou “um novo ímpeto”, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considerou o “quadro de paz refinado” uma “base sólida”, mas sublinhou que a UE sempre defenderá que “o território e a soberania da Ucrânia devem ser respeitados”. O Chanceler alemão, Friedrich Merz, insistiu que a Rússia deve ser o “próximo passo” a se sentar à mesa, permitindo que os europeus consintam em “questões que afetam os interesses e a soberania europeus”.
O Primeiro-Ministro polonês, Donald Tusk, ressaltou a delicadeza das negociações, afirmando que qualquer acordo de paz deve “fortalecer, e não enfraquecer, nossa segurança” e não pode “favorecer o agressor”. As negociações, segundo Merz, serão um “processo prolongado”, sem expectativa de um avanço nesta semana.
Contexto de vulnerabilidade e escalada
O avanço nas negociações ocorre em um momento de vulnerabilidade para Zelenskyy, que enfrenta um escândalo de corrupção que levou à demissão de ministros e à persistência de ganhos russos no campo de batalha. A escalada de ataques de drones continua a afetar as duas nações:
A segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, sofreu um ataque massivo de drones no domingo, matando quatro pessoas e atingindo uma área residencial.
Do lado russo, defesas aéreas abateram drones ucranianos a caminho de Moscou, forçando a suspensão de voos em três aeroportos e causando interrupções de energia perto da capital em uma rara inversão dos ataques.
Parlamentares de relações exteriores de 20 países europeus emitiram uma declaração conjunta sublinhando que uma paz justa e duradoura não será alcançada “cedendo ao agressor”, mas sim respeitando “plenamente a integridade territorial, a independência e a soberania da Ucrânia”.


