Brasil oferece minerais estratégicos e cede em demandas de Trump para anular sanções
Em um movimento para tentar reverter o tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras e encerrar as sanções aplicadas contra cidadãos do país, o governo brasileiro está disposto a atender a uma série de demandas de Washington em uma negociação iminente com o presidente dos EUA, Donald Trump.
O interesse mútuo foi ratificado publicamente por Trump na segunda-feira (tarde), após um telefonema com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã. “Eu me encontrei com o presidente Lula, gostei dele e tivemos uma ótima conversa. Sim, vamos começar a fazer negócios”, afirmou o republicano. Os dois líderes devem se encontrar em breve, possivelmente no final do mês, na Cúpula da ASEAN na Malásia.
Os pontos chave da negociação
Para retirar as sobretaxas punitivas, os Estados Unidos apresentaram uma agenda ampla, que o Brasil se mostra disposto a discutir. Os principais temas incluem:
1. Minerais críticos e estratégicos
Washington busca acesso a minerais essenciais brasileiros, como lítio, cobre e terras-raras, cruciais para setores como energia renovável, defesa e alta tecnologia. O governo Lula concorda em negociar, mas deve exigir contrapartidas, como investimentos e transferência de tecnologia.
2. Redução de tarifas e tributos
Os EUA pedem a redução da tarifa de importação do etanol (atualmente em 18%). Também criticam o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de 19,5% cobrado sobre bebidas alcoólicas, como o uísque americano, alegando ser injusto em comparação com a taxa menor aplicada à cachaça brasileira (16,25%). A burocracia para vinhos americanos também está na pauta.
3. Regulação digital e direitos autorais
Washington manifesta interesse na regulação das grandes plataformas digitais e na redução da tributação sobre produções cinematográficas estrangeiras, bem como mais espaço na TV. Este tema é visto com cautela pelo Brasil, que não descarta aumentar os tributos se não houver acordo.
4. Acesso a mercados e transparência
A pauta inclui o desejo dos EUA por maior acesso a compras governamentais e ao mercado de usados (como pneus e equipamentos médicos). Além disso, há queixas sobre a falta de transparência nas regras para a importação de calçados e roupas.
5. Telecomunicações e patentes
As exigências da Anatel para a importação de produtos de telecomunicações, bem como o registro de patentes de medicamentos (considerado excessivamente demorado pelos EUA), também devem ser debatidos.
Questões espinhosas na mesa
Mesmo questões delicadas, como a investigação americana de supostas práticas comerciais brasileiras prejudiciais (incluindo desmatamento, corrupção e propriedade intelectual), foram levantadas por Washington.
Até mesmo o Pix e produtos da Rua 25 de Março foram citados. O governo brasileiro pretende defender o Pix, argumentando que o meio de pagamento não prejudica as empresas de cartões de crédito americanas.
Um ponto positivo notado por diplomatas é que Trump restringiu o diálogo a temas econômicos e comerciais, e não mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro. O americano ainda indicou o Secretário de Estado, Marco Rubio, para chefiar as negociações com o Brasil. Auxiliares de Lula garantem que nenhuma decisão será tomada sem ouvir o setor privado brasileiro.
