Afeganistão é abalado por novo forte terremoto, tremores sucessivos desafiam esforços de resgate
O número de mortos no devastador terremoto que atingiu o Afeganistão no último domingo subiu para mais de 2.200, segundo um porta-voz do Talibã, Hamdullah Fitrat. O terremoto de magnitude 6.0 é um dos desastres naturais mais mortais a atingir o país nas últimas décadas.
O forte abalo atingiu a parte montanhosa e remota do leste do país, arrasando vilarejos inteiros e deixando pessoas soterradas sob os escombros. A maioria das vítimas foi registrada na província de Kunar, onde 98% das construções, feitas de madeira e tijolos de barro, foram danificadas ou destruídas, de acordo com a organização Islamic Relief.
Na quinta-feira, um novo terremoto de magnitude 5.6 abalou a região, segundo o Centro Helmholtz de Geociências, na Alemanha, e outro tremor secundário de 5.5 na terça-feira causou pânico e dificultou os esforços de resgate ao bloquear estradas com a queda de rochas.
Dificuldades e falta de recursos
As equipes de resgate enfrentam grandes desafios devido ao terreno acidentado. Trabalhadores humanitários relataram ter caminhado por horas para chegar a vilarejos isolados por deslizamentos de terra. As autoridades do Talibã mobilizaram helicópteros e comandos do exército para auxiliar na busca por sobreviventes.
O morador Muhammad Israel, que perdeu sua casa e gado, relatou a dificuldade de continuar na área. “Mal consegui tirar meus filhos de lá. Os tremores de terra continuam. É impossível viver lá”, disse ele, que agora vive em um acampamento da ONU.
Os esforços de socorro são prejudicados pela escassez de financiamento e recursos de ajuda internacional. Após a retomada do poder pelo Talibã em 2021, o apoio financeiro ao país diminuiu drasticamente. O Conselho Norueguês para Refugiados, por exemplo, informou que tem menos da metade dos funcionários que tinha em 2023.
A entidade humanitária possui apenas US$ 100 mil para emergências, o que gera um déficit imediato de US$ 1,9 milhão. Maisam Shafiey, consultora do conselho no Afeganistão, disse que a compra de suprimentos pode levar semanas, mas que as pessoas precisam de ajuda agora.
O médico Shamshair Khan, que atua em um acampamento da ONU, afirmou que os suprimentos estão acabando e que a população precisa urgentemente de mais medicamentos, tendas, comida e água potável. “Essas pessoas estão sofrendo muito”, disse.
Os terremotos ocorrem em um momento em que o Afeganistão já enfrenta uma grave crise econômica, agravada pela seca e pelo retorno forçado de mais de 2 milhões de afegãos dos países vizinhos. A retirada do financiamento da USAid resultou no fechamento de muitos hospitais e clínicas, intensificando a crise de saúde no país.
