Trump decide ampliar presença militar na América Latina com o retorno da Doutrina Monroe
O governo Donald Trump publicou sua nova Estratégia de Segurança Nacional nesta sexta-feira (5), sinalizando uma mudança significativa na política externa dos Estados Unidos.
O documento revela uma intenção de reforçar o foco na América Latina e, ao mesmo tempo, se afastar de seu papel de liderança global, transferindo responsabilidades militares e de segurança para aliados.
A estratégia formaliza uma prioridade de atuação no “Hemisfério Ocidental”, prometendo um “reajuste de nossa presença militar global para enfrentar ameaças urgentes em nosso Hemisfério”. Essa realocação ocorre em um contexto de aumento de tensões com o governo da Venezuela e uma ampla mobilização militar no Caribe, sob o pretexto de combater cartéis de drogas.
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O documento é enfático no objetivo de reforçar a influência dos EUA na América Latina e reduzir a presença de países não-ocidentais, sugerindo que o engajamento militar e político na região pode ser mais duradouro.
Em um movimento de grande significado, a estratégia prevê a “retomada poderosa” da Doutrina Monroe — que defende “a América para os americanos” e considera qualquer tentativa de “recolonização” por potências externas uma ameaça. O texto afirma explicitamente que os EUA “negarão a competidores de fora do Hemisfério a capacidade de posicionar forças ou outras capacidades ameaçadoras”. Essa postura mira, em grande parte, a China, o principal parceiro comercial de vários países latino-americanos, incluindo o Brasil.
O realinhamento militar será baseado em três pilares:
- Aumento da presença da Guarda Costeira e da Marinha: Para controle de rotas marítimas, contenção da migração ilegal, redução do tráfico de drogas e pessoas.
- Ações direcionadas contra cartéis de drogas: Incluindo a possibilidade de uso de força letal para substituir a estratégia anterior focada apenas na aplicação da lei.
- Expansão do acesso: Estabelecer ou ampliar o acesso a locais de importância estratégica na região.
Fim da dominação global e transferência de responsabilidades
A Estratégia de Segurança Nacional acusa governos anteriores de terem buscado uma “dominação global” que sobrecarregou os EUA e permitiu que aliados terceirizassem seus custos de defesa. O documento busca, assim, uma “correção de conduta” através da “transferência de responsabilidades” a seus parceiros.
- Ásia Oriental: O documento exige que aliados como Japão e Coreia do Sul aumentem seus gastos em Defesa e investimentos militares, focando em capacidades de dissuasão. Para Taiwan e Austrália, há a previsão de um reforço da presença militar americana no Pacífico Ocidental, acompanhado de uma retórica firme sobre o aumento dos gastos em defesa dessas nações. A estratégia também prevê um “grande foco” em Taiwan devido à sua dominância na produção de semicondutores.
- Oriente Médio: A meta é “mudar responsabilidades e construir a paz”. Após ações como o bombardeio a instalações nucleares iranianas e o acordo de paz na Faixa de Gaza, os EUA buscam se apoiar em parceiros locais que estariam “demonstrando seu compromisso em combater o radicalismo”.
Migração, Europa e outros tópicos
A segurança das fronteiras é elevada a “elemento principal da segurança” americana, com o objetivo de acabar com as migrações em massa no mundo. O governo Trump critica as políticas migratórias adotadas pela Europa e chega a prever o “apoio àqueles que se opõem aos valores promovidos pela União Europeia” nesse tema.
A estratégia também aborda críticas à Europa por supostamente bloquear progresso no acordo de paz sobre a Ucrânia. Essa é a primeira Estratégia de Segurança Nacional publicada durante o governo Trump, um documento que serve de norte para as políticas externas americanas nos próximos anos.


