Andaimes de bambu e materiais de espuma podem ter sido a ponte para a tragédia em Hong Kong
A polícia de Hong Kong aponta que a rápida e catastrófica propagação de um incêndio em um conjunto habitacional, que resultou na morte de pelo menos 83 pessoas e deixou mais de 250 desaparecidas, pode ter sido causada por andaimes inseguros e materiais de espuma utilizados em obras de manutenção. O incidente se tornou o mais letal em décadas na cidade.
Na quinta-feira, os bombeiros continuavam os esforços de resgate no complexo residencial Wang Fuk Court, lutando contra o calor intenso e a fumaça densa para alcançar possíveis vítimas presas nos andares superiores. Um sobrevivente foi resgatado de uma escada no 16º andar de uma das torres, conforme noticiado pelo South China Morning Post.
Pouco depois da meia-noite de sexta-feira, as autoridades atualizaram o número de mortos para 83 e o de feridos para 76, incluindo 11 bombeiros. O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, havia informado inicialmente 279 desaparecidos, mas o número não foi atualizado desde que os bombeiros fizeram contato com algumas dessas pessoas. Mais de 900 moradores buscaram abrigo em refúgios temporários.
O corpo de bombeiros informou que conseguiu extinguir os incêndios em quatro dos oito blocos de apartamentos do conjunto, controlando três outros focos. Apenas um dos edifícios não foi afetado.
Negligência e prisões
A polícia de Hong Kong acredita que a negligência extrema da empresa responsável pela obra pode ter levado à tragédia. “Temos motivos para acreditar que os responsáveis da empresa foram extremamente negligentes, o que levou a este acidente e fez com que o incêndio se alastrasse descontroladamente, resultando em um grande número de vítimas,” afirmou Eileen Chung, superintendente da polícia.
Três indivíduos ligados à construtora – dois diretores e um consultor de engenharia – foram presos. Embora Chung não tenha revelado o nome da empresa, a polícia realizou buscas no escritório da Prestige Construction and Engineering Company, apreendendo documentos. O governo confirmou que a Prestige era a empreiteira registrada para o complexo, alertando que quaisquer violações das leis de construção serão encaminhadas para medidas legais, incluindo processos judiciais. A Prestige ainda não se manifestou publicamente.
Possíveis causas da propagação
O complexo de 31 andares, com cerca de 2.000 apartamentos e 4.800 moradores, estava em reforma no distrito de Tai Po. A polícia levanta a hipótese de que o incêndio se espalhou pelos andaimes de bambu que envolviam o prédio, possivelmente agravado por ventos fortes. Os andaimes de bambu são comuns em Hong Kong, mas estão sendo gradualmente substituídos por questões de segurança.
Investigações indicam que as telas de proteção e o plástico utilizados para cobrir os edifícios podem não ter atendido aos padrões de segurança contra incêndios. Além disso, descobriu-se que janelas de um prédio não atingido estavam seladas com um material de espuma instalado durante a manutenção.
Indignação e comparações históricas
O líder chinês, Xi Jinping, solicitou um “esforço total” para controlar o fogo e minimizar as perdas. Online, moradores expressaram indignação com as possíveis causas do incêndio, com um vídeo circulando que supostamente mostra operários fumando nos andaimes de bambu.
O desastre gerou comparações com o incêndio da Grenfell Tower, em Londres, em 2017, que matou 72 pessoas e foi atribuído a revestimentos inflamáveis e falhas na regulamentação.
Em Hong Kong, apesar dos padrões de construção serem considerados elevados, a Associação pelos Direitos das Vítimas de Acidentes de Trabalho expressou profunda preocupação com a recorrência de incêndios associados a andaimes, citando incidentes anteriores em abril, maio e outubro.


