Cientista Aroldo Maciel alerta para risco de terremoto de 9.0 na costa da Rússia que pode provocar tsunami em todo o Pacífico, após poderosos tremores em Kamchatka
Uma sequência de terremotos de grande magnitude na península de Kamchatka, na Rússia, tem gerado apreensão entre sismólogos e levantado a possibilidade de um evento sísmico ainda mais devastador na região. Um dos maiores tremores, registrado com magnitude 8.8, foi seguido por um número incomum de réplicas, incluindo um evento de 7.4 que disparou alertas de tsunami na costa russa no final de agosto.
O especialista em terremotos Aroldo Maciel, em seu canal no YouTube, expressou preocupação de que os recentes abalos submarinos possam ser um prelúdio para um “megaterremoto” com magnitude superior a 9.0. Ele faz um paralelo com o terremoto de 1952, um evento de magnitude 9.0 na mesma região que provocou destruição e tsunamis em todo o Pacífico.
“A região de Kamchatka tem sido abalada por poderosos tremores, e isso pode ser um prenúncio de um 9.0 na costa do extremo oriente da Rússia. Eu não descarto essa possibilidade”, alertou Maciel. O sismólogo afirma que tem avisado há anos sobre a possibilidade de um megaterremoto em diversas regiões do Anel de Fogo do Pacífico, como Japão, Peru, Equador e Indonésia, mas a situação atual em Kamchatka é particularmente alarmante.

Entendendo a ameaça: O Anel de Fogo e a vulnerabilidade de Kamchatka
A península de Kamchatka está localizada no Anel de Fogo do Pacífico, uma das zonas geologicamente mais voláteis do mundo. Esta região em forma de ferradura, que se estende ao redor do Oceano Pacífico, é responsável por cerca de 80% dos terremotos do mundo e abriga a maior parte dos vulcões ativos do planeta.

O Dr. Stephen Hicks, professor de sismologia ambiental na University College London, explica que os “megaterremotos” são causados pelo movimento das placas tectônicas. Na costa de Kamchatka, a placa do Pacífico se move em direção a noroeste, afundando sob a microplaca de Okhotsk. Esse processo de subducção nem sempre ocorre sem atrito, e a energia acumulada por milhares de anos pode ser liberada de repente em um evento conhecido como terremoto de mega-empuxo.
“Quando pensamos em terremotos, imaginamos um epicentro como um pequeno ponto em um mapa. No entanto, para terremotos tão grandes, a falha terá se rompido ao longo de centenas de quilômetros,” explica Hicks. A enorme quantidade de área de falha e deslizamento é o que gera terremotos de magnitude tão alta. Os maiores terremotos já registrados, incluindo os no Chile, Alasca e Sumatra, foram todos desse tipo.

Histórico de destruição: O tsunami de 1952
O alerta sobre um possível megaterremoto em Kamchatka ganha peso ao se olhar para o passado. Em 4 de novembro de 1952, um terremoto de magnitude 9.0 atingiu a costa da península, desencadeando um tsunami que devastou a cidade de Severo-Kurilsk com ondas de até 18 metros. A tragédia foi agravada pelo fato de muitos moradores, após fugirem da primeira onda para as colinas, terem retornado à cidade e sido mortos pela segunda. Embora os números oficiais tenham sido censurados pela União Soviética, estima-se que as mortes variaram de 2.336 a 14.000 pessoas.
O tsunami de 1952 também viajou por todo o Pacífico, causando danos em diversas áreas:
Havaí: Destruiu barcos e píeres, e causou inundações, resultando em prejuízos de até US$ 1 milhão, embora não tenha havido mortes humanas.
- Chile e Peru: Ondas de tsunami também atingiram a costa desses países, provocando alguns danos.
- Alasca: Ondas de até 1,4 metros foram registradas nas Ilhas Aleutas.
- Japão: O tsunami foi observado, mas sem danos significativos ou perdas de vidas.
- A cidade de Severo-Kurilsk foi reconstruída em uma área mais elevada e segura após a tragédia.
Monitoramento e perspectivas futuras
Após o recente terremoto de 7.8, a região de Kamchatka continuou a ser abalada por tremores secundários, com o Serviço Geológico dos EUA (USGS) registrando 14 atividades sísmicas em um período de 12 horas. Embora não houvesse relatos imediatos de danos ou feridos, as autoridades e sismólogos continuam monitorando de perto a área. A coincidência de eventos em um curto período de tempo sugere uma possível sequência de perturbações sísmicas relacionadas, embora os especialistas ainda não tenham confirmado se representam um padrão ou rupturas independentes ao longo da mesma zona de falha.
A capital de Kamchatka, Petropavlovsk-Kamchatsky, está localizada em uma área de alta vulnerabilidade, cercada por vulcões e com acesso limitado, o que a torna um polo importante para cientistas e turistas que estudam e exploram a região. Quaisquer novos terremotos na península podem representar uma ameaça para países como os EUA, com tsunamis que podem atingir o Alasca ou o Havaí.


