Bolhas misteriosas sob o manto ameaçam a superfície da Terra e preocupam cientistas
Erupções vulcânicas massivas têm o poder de devastar infraestruturas, paralisar o tráfego aéreo, destruir cidades, alterar o clima por anos e, em casos extremos, até mesmo ameaçar a vida na Terra. Por isso, compreender o que as desencadeia é crucial. Novas pesquisas revelam que características específicas nas profundezas do nosso planeta podem estar diretamente ligadas a esses eventos cataclísmicos.
As “BOLHAS” do Manto inferior e as plumas de magma
Milhares de quilômetros abaixo da superfície terrestre, existe uma camada sólida de rocha quente conhecida como manto inferior. Diferente da representação simplificada em livros didáticos, essa camada possui uma topografia complexa, com duas estruturas do tamanho de continentes — apelidadas de “BOLHAS” (BLOBS) pela equipe de pesquisa — que podem ser compostas por materiais distintos dos que as cercam.
A vulcanologista Annalise Cucchiaro, da Universidade de Wollongong, Austrália, e seus colegas descobriram que essas grandes estruturas basais do manto inferior influenciam diretamente a atividade vulcânica na superfície. Quando colunas escaldantes de rocha, ou plumas do manto profundo, emergem de profundidades de quase 3.000 quilômetros (cerca de 2.000 milhas), elas podem alimentar os tipos de vulcões devastadores que moldaram a Terra e contribuíram para eventos de extinção em massa, como a dos dinossauros.
As BOLHAS sempre foram consideradas uma provável fonte dessas plumas subterrâneas. Agora, a equipe de Cucchiaro confirmou essa conexão usando três conjuntos de dados que detalham grandes erupções vulcânicas ocorridas há milhares de anos. “Este trabalho destaca a importância das plumas do manto atuando como ‘rodovias de magma’ para a superfície, criando essas erupções gigantes”, explica Cucchiaro. “Isso também mostra que essas plumas se movem junto com sua fonte, as BOLHAS.”

Communications Earth & Environment , 2025)
Existem duas dessas BOLHAS no manto inferior: uma sob o hemisfério africano e outra sob o Oceano Pacífico.
Um sistema dinâmico com repercussões na superfície
Ainda não se sabe ao certo se as BOLHAS permanecem fixas ou se movimentam por convecção. No entanto, a nova pesquisa sugere que se trata de um sistema dinâmico, com repercussões diretas para a vida na superfície.
Ao simular os movimentos das BOLHAS ao longo de 1 bilhão de anos, a equipe demonstrou que elas produziram plumas no manto que, por vezes, se inclinavam ligeiramente à medida que subiam. Isso significa que as erupções ocorriam diretamente acima ou perto das BOLHAS, e esses locais coincidiam com os de erupções já conhecidas.
“Usamos estatísticas para mostrar que os locais de erupções vulcânicas gigantes do passado estão significativamente relacionados às plumas do manto previstas por nossos modelos”, explicaram Cucchiaro e o geocientista Nicholas Flament no The Conversation. “Isso é encorajador, pois sugere que as simulações preveem plumas do manto em alguns lugares e em alguns momentos geralmente consistentes com o registro geológico.”
Implicações futuras: descobertas e recursos
Embora destrutivas, grandes erupções também têm o poder de criar. Saber onde elas podem ter ocorrido historicamente — ou onde podem ocorrer no futuro — pode auxiliar na descoberta de “tesouros magmáticos” como kimberlito e diamantes, além de minerais importantes para a energia renovável.
“Esta pesquisa desvenda uma das questões que há muito tempo atormentam os cientistas: as BOLHAS são estacionárias ou móveis e como elas se relacionam com explosões vulcânicas gigantes? Por isso, é emocionante finalmente [ser capaz de] desvendar esses mistérios”, conclui Flament.
