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Derretimento de geleiras pode despertar centenas de vulcões adormecidos em todo mundo, alertam cientistas

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As mudanças climáticas podem desencadear um efeito dominó perigoso, com o derretimento acelerado das geleiras tendo o potencial de ativar centenas de vulcões em todo o mundo. Por sua vez, essa atividade vulcânica ampliada poderia piorar ainda mais os efeitos do aquecimento global, criando um ciclo de feedback preocupante.

Modelos recentes, focados no magma sob as geleiras da Patagônia, no extremo sul da América do Sul, indicam que o recuo do gelo é capaz de “sacudir” vulcões subglaciais de seu longo sono. Embora não haja um risco iminente de uma “explosão” vulcânica global, as descobertas sugerem que o rápido derretimento das geleiras pode aumentar a probabilidade de erupções futuras, possivelmente ao longo de centenas ou milhares de anos. Esta preocupação é particularmente relevante para regiões como a Antártida, onde mais de 100 vulcões estão atualmente ocultos sob vastas camadas de gelo.

O Mecanismo por Trás do Despertar Vulcânico

O estudo baseia-se na história geológica da camada de gelo da Patagônia. Há mais de 18 mil anos, quando a camada de gelo estava em seu auge, o magma se acumulava e cristalizava a cerca de 10 a 15 quilômetros abaixo da superfície. No entanto, à medida que o clima se aquecia e as geleiras derretiam, a pressão sobre a crosta terrestre diminuía.

Cientistas acreditam que, sem o peso do gelo, a crosta terrestre “saltou” para cima, permitindo que os gases do magma subterrâneo se expandissem – um fator crucial para desencadear erupções vulcânicas.

Pesquisadores analisaram amostras de seis vulcões no Chile para entender seu passado eruptivo. O vulcão Mocho-Choshuenco, atualmente adormecido, demonstrou em seus registros que sua atividade eruptiva foi impactada pelo avanço e recuo do gelo patagônico no passado. Levaram de 3 mil a 5 mil anos para que a diminuição do gelo na região resultasse em erupções explosivas, o que sugere que há tempo para preparação.

Implicações globais e o “ciclo de feedback positivo”

Com a Patagônia moderna perdendo mais gelo e partes da terra se recuperando em taxas rápidas e inesperadas, cientistas expressam preocupação. “As geleiras tendem a suprimir o volume de erupções dos vulcões abaixo delas”, explica o vulcanologista Pablo Moreno-Yaeger, da Universidade de Wisconsin-Madison, que apresentou a pesquisa na Conferência Goldschmidt. “Mas, à medida que as geleiras recuam devido às mudanças climáticas, nossas descobertas sugerem que esses vulcões entram em erupção com mais frequência e de forma mais explosiva.”

Um fenômeno semelhante já foi observado por cientistas que estudam vulcões e geleiras na Islândia, mas este é um dos primeiros estudos a demonstrar essas mesmas forças em ação em uma escala continental.

“Nosso estudo sugere que esse fenômeno não se limita à Islândia, onde foi observado aumento da atividade vulcânica, mas também pode ocorrer na Antártida”, afirma Moreno-Yaeger. Ele acrescenta que “outras regiões continentais, como partes da América do Norte, Nova Zelândia e Rússia, também merecem agora maior atenção científica.”

Na Antártida, por exemplo, simulações já mostraram que o derretimento excessivo de gelo pode aumentar futuras erupções. Mesmo que o magma não rompa completamente a camada de gelo, ele pode derreter a estrutura por dentro.

Moreno-Yaeger alerta para as consequências a longo prazo: “Com o tempo, o efeito cumulativo de múltiplas erupções pode contribuir para o aquecimento global de longo prazo devido ao acúmulo de gases de efeito estufa.” Ele conclui que isso cria um “ciclo de feedback positivo, em que o derretimento das geleiras desencadeia erupções, e as erupções, por sua vez, podem contribuir para maior aquecimento e derretimento.”

Prever e entender esse tipo de cenário catastrófico é crucial para que os cientistas possam, se possível, mitigar seus impactos antes que se tornem incontroláveis.

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