País da OTAN prepara alistamento obrigatório para mulheres diante de ameaça russa na Europa
Em uma medida histórica e impulsionada pela crescente instabilidade geopolítica na Europa, a Dinamarca estenderá o alistamento militar obrigatório às mulheres pela primeira vez. A nova legislação, aprovada em junho, significa que jovens dinamarquesas a partir dos 18 anos serão incluídas na loteria nacional de recrutamento em pé de igualdade com os homens. O alistamento voluntário continua sendo uma opção, mas as vagas remanescentes agora serão preenchidas por um recrutamento de gênero neutro.
A mudança reflete a necessidade de reforçar a prontidão militar do país escandinavo. Katrine, uma jovem de 20 anos que se voluntariou e está em treinamento, saudou a decisão: “Na situação atual do mundo, é necessário. Acho justo e correto que as mulheres participem em pé de igualdade com os homens.”
A invasão russa da Ucrânia tem sido um fator crucial para essa reforma. As lições do campo de batalha ucraniano foram incorporadas ao treinamento dinamarquês, conferindo uma dose de realidade aos recrutas. Originalmente prevista para 2027, a implementação da lei foi antecipada para o verão de 2025 devido às urgentes preocupações com a segurança.
Segundo o Coronel Kenneth Strøm, chefe do programa de recrutamento, “a atual situação de segurança” é o principal motor da medida. Ele enfatiza que o aumento do número de recrutas, incluindo mulheres, “levaria a um maior poder de combate” e fortaleceria a dissuasão coletiva da OTAN.
Com uma população de cerca de 6 milhões, a Dinamarca possui atualmente 9.000 soldados profissionais. A expectativa é aumentar o número de recrutas anuais de 4.700 (em 2024) para 6.500 até 2033. Atualmente, cerca de 25% dos voluntários são mulheres. A duração do serviço também será estendida de quatro para 11 meses, incluindo treinamento básico e serviço operacional.
Essa reforma é parte de um amplo fortalecimento militar dinamarquês, incluindo um Fundo de Aceleração de US$ 7 bilhões para elevar os gastos com defesa para mais de 3% do PIB, superando a meta de 2% da OTAN. Rikke Haugegaard, pesquisadora do Colégio Real de Defesa da Dinamarca, aponta que o foco está nos países bálticos, para os quais a Dinamarca contribui com muitos soldados.
Apesar dos benefícios, há desafios logísticos e culturais, como a necessidade de construir novas instalações e abordar o risco de assédio sexual. A Dinamarca segue o exemplo de vizinhos nórdicos: a Suécia reintroduziu o alistamento neutro em 2017, e a Noruega foi o primeiro país da OTAN a implementar o recrutamento com igualdade de gênero em 2013.